CARLOS ROSADO DE CARVALHO DEFENDE REVISÃO INCLUSIVA DA HISTÓRIA DE ANGOLA E VALORIZAÇÃO DE TODOS OS HERÓIS DA INDEPENDÊNCIA

O prelector e economista, Carlos Rosado de Carvalho defendeu, nesta quinta-feira, 05.06, durante um acto de reflexão promovido pelo MOVANGOLA, a necessidade urgente de revisitar a história de Angola de forma mais inclusiva e imparcial, de modo a se valorizar todos os protagonistas da luta pela independência nacional.
ANNA COSTA
Embora desafiado a falar sobre um tema fora da sua zona de conforto, o também jornalista Carlos Rosado destacou que a construção da identidade nacional passa, obrigatoriamente, pela valorização da memória colectiva e pelo resgate de referências históricas, sobretudo num contexto em que, segundo ele, “vivemos numa sociedade muito consumista, voltada para o dinheiro e para valores materiais”.
“ Os ídolos da nossa juventude hoje são o sucesso fácil, o dinheiro rápido. Por isso, eventos como este, que resgatam figuras que lutaram por causas sem qualquer interesse pessoal, são fundamentais para a construção de um país mais consciente” afirmou o prelector.
Carlos Rosado sublinhou que a celebração dos 50 anos da independência deve servir não apenas como uma festa simbólica, mas também como um momento de reflexão profunda sobre os verdadeiros protagonistas da luta.
“ É importante lembrar que tivemos três partidos que lideraram o processo de libertação: o MPLA, a UNITA e a FNLA. E devemos, de forma justa, agradecer aos três líderes, porque são referências incontornáveis. Embora a luta tenha sido feita por milhares de anónimos, essas três figuras representam um esforço colectivo nacional” destacou.
O académico chamou ainda a atenção para o facto de a história oficial do país ter sido contada, maioritariamente, sob a perspectiva do “vencedor”, o que deixa de fora importantes contribuições de outros actores.
“ A história como está hoje não é a verdade completa. Precisamos de historiadores independentes que a recontem tal como ela ocorreu. O tempo está a passar. Muitos dos que participaram directamente da luta estão a morrer, e não podemos perder essa memória viva” alertou.
Para Rosado, a luta pela independência não começou em 1961, mas remonta a séculos atrás.
“A luta começou em 1484, com a chegada dos primeiros colonos. Homens e mulheres, com catanas nas mãos, enfrentaram uma força repressiva ao longo da história. É nossa obrigação reconhecer esses anónimos que, para o bem e para o mal, estão hoje simbolicamente representados pelos três partidos históricos, MPLA, UNITA e FNLA” concluiu.