ANGOLA PRECISA DE SINODALIDADE POLÍTICA – KAMALATA NUMA

A sinodalidade é um conceito central na vida eclesial da Igreja Católica. Refere-se ao modo de viver e caminhar juntos como Povo de Deus, com participação, comunhão e missão partilhadas entre todos — leigos, religiosos, diáconos, padres e bispos.
O termo vem do grego synodos, que significa literalmente “caminhar juntos” (syn = junto; hodos = caminho). É precisamente disso que Angola precisa: de uma Sinodalidade Política, algo que ainda nos escapa, mesmo após 50 anos de independência.
Ontem, 14 de maio de 2025, vi o Presidente da UNITA na TPA. Não sei dizer há quanto tempo o principal dirigente da oposição não aparecia nesse órgão público de comunicação da República de Angola.
Vi-o com um semblante preocupado com o futuro político do país, especialmente diante da possibilidade de o recente encontro com o Presidente João Manuel Gonçalves Lourenço não produzir, na prática, um compromisso com a constitucionalidade do Estado Democrático de Direito.
Enquanto isso, durante uma vigília no Bengo, organizada por militantes da UNITA, a Polícia Nacional usou armas de fogo, resultando em diversos feridos e um cidadão em estado de coma.
Ao mesmo tempo, a Ordem dos Advogados de Angola enfrenta impedimentos para discutir a constitucionalidade da proposta eleitoral do MPLA, sob ameaça de intervenção da ordem pública caso a deliberação do Tribunal da Comarca de Luanda não seja acatada.
Mais grave ainda, foi a tomada de posse de Manuel Pereira da Silva “Manico” à margem da legalidade, inventando normas inconstitucionais de concurso público para o provimento do cargo de Presidente da Comissão Nacional Eleitoral (CNE).
Os órgãos de soberania, defesa, segurança e ordem interna estão completamente capturados pelo Executivo liderado por João Lourenço. As eleições autárquicas continuam silenciadas, com o governo responsabilizando ardilosamente a Assembleia Nacional, cuja direcção se limita a obedecer a ordens superiores.
Vivemos uma deriva constitucional no ordenamento político, económico, social e cultural do país.
A pobreza é alarmante. O desemprego, galopante. A cesta básica tornou-se insustentável. A educação e a saúde — agravadas por surtos como o da cólera — deixaram de ser de “terceiro mundo” e passaram a representar uma realidade desconhecida, onde apenas alguns fanáticos mirabolantes ousam festejar a tragédia da nossa casa comum: Angola.
A CIVICOP (Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos) não tem conseguido criar um verdadeiro espírito de união num país de múltiplicidade existencial, traumas profundos e sorrisos esquecidos.
Diante de tudo isso, quo vadis, Angola nossa?
O povo angolano precisa urgentemente de Sinodalidade Política — de caminhar junto, em comunhão e co-responsabilidade, na construção deste país rico e promissor. Um país onde ninguém seja discriminado ou condenado, de forma irresponsável, a um “futuro sem futuro” apenas por não pertencer ao partido no poder.
Como já se ouviu de forma lamentável: “No meu governo, opositor, no máximo, só pode ser director!”
Obrigado!