UM FACTO QUE O MPLA TENTA REEDITAR EM 2027 – KAMALATA NUMA

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No dia 30 de agosto de 2012, véspera das eleições gerais em Angola, um episódio estranho começava a desenhar-se nos bastidores da UNITA.

Na altura, deslocava-me de Menongue, capital do Kwando Kubango, e fiz uma paragem no Huambo para pernoitar. Já antes de chegar no Huambo, recebi informações dos meus camaradas do Bié sobre uma alegada orientação interna que circulava: a UNITA não participaria nas eleições, por considerar o processo viciado.

Diante da gravidade da notícia, já no dia seguinte e em movimento para Luanda, entrei imediatamente em contacto com o General Chilingutila, que confirmou a existência dessa proposta, defendida por uma certa linha dentro da Direcção. Alertei que qualquer decisão dessa natureza só poderia ser validada pelo Comité Permanente.

Duas horas depois, recebi a convocatória para uma reunião extraordinária do Comité Permanente, marcada para as 18h00, no São Paulo (Luanda).

Cheguei a Luanda por volta das 16h00 e deparei-me com um cenário preocupante: a maioria dos Secretariados já havia aderido à orientação de não participar nas eleições, e começavam a dispersar os delegados de lista.

Outro episódio marcante ocorreu por volta das 19h00: um grupo ligado à CASA-CE encontrava-se em frente ao Secretariado da UNITA no São Paulo, em plena manifestação, gritando que a UNITA seria “traidora” se fosse às eleições. No entanto, uma fonte próxima à CASA-CE confirmou-me que, nesse mesmo momento, o partido já ultimava os preparativos para a sua própria participação no pleito do dia seguinte.

Foi então que compreendi o verdadeiro plano em marcha: o objectivo do MPLA era colocar a CASA-CE como segunda força política na Assembleia Nacional, com a UNITA afastada do Parlamento.

Até hoje, essa cabala triangular — MPLA, CASA-CE e alguns elementos internos da UNITA — nunca foi devidamente esclarecida. Talvez o tempo, e Deus, se encarreguem disso.

Agora, em 2025, vemos tentativas de reencenar a mesma jogada. Mas há uma diferença crucial: a UNITA de hoje não é a mesma de 2012. Mudou com Adalberto Costa Júnior, cuja liderança é atacada sem tréguas, exactamente porque rompeu com os vícios e as armadilhas do passado.

Desta vez, o MPLA só pode contar com os “nanismos políticos”, já rejeitados pela consciência crítica dos eleitores. Porque, em 2027, quem viver na ilusão da boleia eleitoral do MPLA cairá no abismo. É o MPLA que dependerá da boleia da CNE para sobreviver — não o contrário.

E até lá, manifestar-se é um direito constitucional. Não é motim.

O voto é uma conquista pela legitimidade do eleitor — e não um favor de quem viola a Constituição da República.

Golpistas são os que subvertem a legalidade.

OBRIGADO!

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