TOLERÂNCIA E COMPAIXÃO PARA MILUCHA! – (POR LAMAS)
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Numerosas são as reacções severas que suscitam as últimas declarações de Maria Luísa Abrantes, vulgarmente conhecida por Milucha. Declarações veiculadas nas redes sociais e que alvejam ferozmente os congolenses residentes em Angola e também os nossos concidadãos bakongos. Apesar da violência irresponsável dos propósitos de Milucha, convido insistentemente todo angolano ou estrangeiro residente no nosso país, que legítimamente se sente atingido no seu ego, na sua honra e na sua cidadania, que manifeste tolerância e compaixão para com Milucha, pois massivas são as razões que justificam a necessidade do pronunciamento de uma absolvição, que muitos, aliás, gostariam que fosse póstuma.
As razões que advogam em prol da tolerância para Milucha lidam com o teor das suas declarações, com a formulação do seu pensamento, mas também com a natureza profunda que estrutura a personagem.
Vejamos em primeiro lugar o teor das declarações feitas. Ele traduz um espírito confuso e um conhecimento debilitado da História recente de Angola.
Espírito confuso, porque Milucha exprime, de início, o seu desejo de dar incentivo ao civismo e ao patriotismo dos congolenses residentes em Angola, culpados por não terem integrado voluntáriamente as fileiras das FARDC para socorrer e defender a terra-mãe vítima de agressão, a leste, de rebeldes do M23 nomeadamente.
Mas do incentivo anunciado, muito rápidamente Milucha desliza, sem lógica aparente, para uma crítica desarticulada e desajeitada da sociedade angolana. No ardor da estupidez, ela espezinha os “zairenses” desertores da pátria congolense, confundindo-os ao mesmo tempo com os angolanos que outrora se tiveram refugiado na ex-República do Zaire e, de forma geral, com os bakongos angolanos.
Esta voluntária confusão, participa da sua inclinação doentia à estigmatização dos angolanos nortenhos, procurando marginaliza-los do perímetro da nacionalidade angolana. Todos eles não são mais que vulgos “zairenses”, sentenciou ela implícitamente.
Por outro lado, Milucha dá provas de um domínio pobre da História de Angola, em particular da mais recente que marcou a marcha que culminou com o 11 de Novembro de 1975, prosseguindo-se com uma devastadora guerra civil. Os eventos marcantes de 1961, a concentração nas regiões mais a norte de Angola, nessa altura, dos actos de rebelião dos angolanos contra a potência colonial portuguesa, o papel maior dos Congos na história de libertação do nosso País, os movimentos de população do norte e do leste de Angola para o Congo quando decorriam a guerra de libertação e a guerra civil, todos esses factos históricos não constam nos conhecimentos básicos de Milucha. Como culpa-la se de Dra só detém títulos usurpados e de cultura e de livros só adiquiriu o pouco que a rua, no seu pior, lhe proporcionou?
Em segundo lugar, é interessante salientar o estilo característico de Milucha na formulação dos seus propósitos. De maneira manifesta, o domínio da língua de Camões não é seguramente a sua chávena de chá preferida. A expressão confusa do pensamento e a pobreza do verbo utilizado deixam transparecer uma instrução de base módica. O que, aliás, vai a contra-corrente da imagem de “matumbisse” que ela sempre pretendeu colar aos seus concidadãos bakongos, pejorativamente tratados de “zairenses” e de analfabetos.
É também na formulação do seu pensamento que as fragrâncias xenófobas soltam-se e apontam de um dedo acusador os ditos são-tomenses, malianos, congolenses, libaneses e cabo-verdianos. Esses últimos ainda beneficiam de uma indulgência cínica da parte da nossa personagem. Lembremo-nos que as declarações em causa tinham por finalidade inicial o incentivo do civismo e do patriotismo dos cidadãos congolenses em Angola. Contudo, o discurso formulado por Milucha fez-se um micróbio mortífero que periga a coexistência tranquila, pacífica e coesa de todos aqueles que vivem em território angolano e que aspiram ao progresso da nossa terra.
Finalmente, em terceiro lugar, fica patente, após leitura do ôpus de Milucha, a expressão de uma natureza profunda que torna quase vãs as análises e conclusões aqui descritas. Assim é igualmente com todas as reações que ela induziu pela ferocidade da sua retórica. Nem é necessário mobilizar homens de ciência, como li em certas comunicações, porque a razão, o equilíbrio do raciocínio e o cartesianismo são praias profundas demais para as capacidades de Milucha. Sim, tudo parece vão, pela simples razão que a nossa personagem bebeu, no passado, das águas embriagantes do poder e não se conforma com o seu estatuto vigente.
A perda de protagonismo e de visibilidade no jogo político e social na praça angolana alimentou nela ódios e rancores que se exprimem brutalmente, sem que o seu superego faça o seu papel de alerta e de moderador. Aliás, a sua história pessoal certificou já quanto a moderação nunca foi o seu traço de personalidade o mais atraente. Sim, frustrações, ódios e rancores enterrados no seu foro-íntimo e que se exprimem como surtos de diarreia verbal. Não escapou a ninguém que ela fez dos bakongos, dos “zairenses”, dos são-tomenses, dos malianos e outros mais, o alvo de uma cobra que cuspe o seu veneno sem discernimento.
Não escapou a muitos que na festa das expiações que ela pretende animar, feita a detentora da faca que sangra a besta, os bodes expiatórios a sacrificar no cimo da montanha, ainda que injustamente, também serão João Lourenço e Miala. Um porque catalogado, com um populismo ligeiro e tão irresponsável, de catanguês, outro porque ilegítimo, já que vindo de uma família modesta e sem nome.
Concluindo, confusão dos propósitos que confina com uma confusão de espírito de tal forma débil e odiosa, que exige de parte dos angolanos, e demais, muita tolerância e compaixão para com Milucha. Movida por fantasmas nauseabundos, nocivos para a consistência do tecido nacional angolano, Milucha é na verdade um objecto interessante para estudos de perfis psiquiátricos fora de norma.
Logo, passemos a seu benefício um processo-verbal de irresponsabilidade, pois não tem o domínio dos seus actos e palavras. Perante tanta pobreza mental e fragilidade intelectual, a sentença adequada é a nossa tolerância e a nossa compaixão maiores, porque ela não atinge conscientemente as suas comissões. Infelizmente o lixo da História, assim como o Oriente Eterno, contêm muitos como ela!