M23 AMEAÇA ANGOLA: “MELHOR MANTEREM-SE “QUIETO” SOBRE O CONFLITO NA RDC SOB PENA DE VER ESTES NAS FRONTEIRAS DE ANGOLA

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O movimento armado M23 avisou as autoridades angolanas para manterem-se “quietos”, relativamente o seu envolvimento no conflito na República Democrática do Congo (RDC), sob pena, de correr o risco de verem presença destes no território angolano.

ANA MENDES

O movimento liderado pelo Cornelle Nangaa Yubetu, diz que uma presença dos efectivos das Forças Armadas (FAA), para auxiliar o regime de Kinshasa, poderá arrastar o conflito no território angolano.

Um alto oficial do M23 citado pela imprensa internacional, disse que o exército angolano já não dá “mais medo”, porque um terço do seu efectivo são jovens sem experiência.

Segundo este oficial que não quis identificar-se, os “verdadeiros guerreiros angolanos”, compostos por ex-militares das FALA (UNITA) e FAPLA (MPLA), que podiam dar trabalho as forças invasoras estrangeiras, foram “abandonados pelo Executivo angolano”.

Segundo o M23, Angola está “muito vulnerável”, porque a maioria da sua população está confinada no litoral e especialmente na capital do País, a procura de boas condições de vida.

“Uma invasão estrangeira a partir das fronteiras norte e leste de Angola, em 48 horas os atacantes podem atingir as principais cidades, porque nas zonas rurais de Angola, não população”, segundo alguns analistas.

O ex-chefe eleitoral que virou líder rebelde, Corneille Nangaa, deixou de supervisionar as contestadas eleições de 2018 no Congo para liderar uma poderosa insurgência contra o presidente da RDC, Félix Tshisekedi, diz que respeita Angola e não tem medo.

“A semelhança dos angolanos que vive momentos dramáticos, na RDC a situação é a mesma. Portanto, deixem os congoleses resolverem internamente os seus problemas”, diz o oficial que viemos citando.

Agora chefe da Aliança do Rio Congo (CRA) e aliado ao M23 apoiado por Ruanda, Corneille Nangaa Yubeluo tomou cidades-chave, incluindo Goma, e promete marchar sobre Kinshasa .

Condenado à morte à revelia, ele continua no centro do crescente conflito da RDC .

Nascido em 9 de julho de 1970 no que é hoje a Província de Haut-Uele na RDC, Nangaa começou sua carreira longe do campo de batalha. Ele estudou economia na Universidade de Kinshasa antes de trabalhar com organizações internacionais, incluindo o Programa de Desenvolvimento da ONU.

Seu avanço político veio em 2015, quando foi nomeado presidente da Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) sob o então presidente  Joseph Kabila . Ele foi responsável por organizar as eleições atrasadas de 2018 e declarou Félix Tshisekedi o vencedor de forma controversa. Seu mandato na CENI terminou em 2021 em meio a alegações de fraude eleitoral e sanções dos EUA por “minar as eleições  na RDC “.

 Inicialmente alinhado com a elite governante, Nangaa mais tarde se distanciou do presidente Tshisekedi. Antes das eleições de 2023, Nangaa disse que o resultado de 2018 havia sido manipulado em um acordo secreto entre Tshisekedi e Kabila, o que Tshisekedi nega.

Em Agosto de 2023, Nangaa ressurgiu como uma figura-chave nos conflitos armados da RDC, lançando o CRA – uma coalizão de 17 partidos políticos, dois grupos políticos e milícias armadas . Entre eles estava o Movimento 23 de Março (M23), um grupo insurgente apoiado por Ruanda. Nangaa desde então se posicionou como uma figura de liderança na rebelião contra o governo de Tshisekedi.

No início de 2025, Nangaa e M23 haviam assumido o controle de Goma, a capital de Kivu do Norte, e estavam avançando em direção a Bukavu . Em uma entrevista coletiva de Goma, ele reiterou que Tshisekedi nunca havia vencido legitimamente a presidência e declarou: “Se eu criei o monstro, acho que cabe a mim derrotá-lo.” Ele e seus aliados deixaram claro que seu objetivo final é tomar o poder em Kinshasa.

O conflito levou à violência generalizada, com mais de 100 pessoas mortas e centenas de outras feridas. Os hospitais em Goma estão sobrecarregados , e a cidade está lutando contra a escassez de água e electricidade.

Os esforços diplomáticos para pôr fim aos conflitos fizeram pouco progresso, e órgãos regionais como a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) estão debatendo se devem retirar suas forças de manutenção da paz.

Em Agosto de 2024, um tribunal militar em Kinshasa condenou Nangaa, junto com vários líderes do M23, à morte à revelia por traição, crimes de guerra e insurreição. Os EUA e a UE impuseram novas sanções a ele e sua coalizão por “alimentar a instabilidade” e tentar derrubar o governo congolês.

Apesar da sentença, Nangaa continua activo no campo de batalha. Sua aliança está expandindo sua influência além de Kivu do Norte, com relatos sugerindo que ele pretende estender as operações para o sudeste rico em minerais, particularmente Katanga, onde a oposição a Tshisekedi é forte. Sua estratégia parece ser não apenas militar, mas também política, e está buscando apoio mais amplo além da comunidade tutsi, historicamente associada ao M23.

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