A INVESTIDURA DE CHAPO OS PROTESTOS DE VENÂNCIO MONDLANE E O FUTURO DE MOÇAMBIQUE – NOÉ MATEUS
Noé Francisco Dias Mateus é Pastor, Teólogo, Pan-Africanista, Mestre em Estudos Psicanalíticos, Pesquisador e Investigador dos assuntos Africanos.
A Investidura de Daniel(Chapo) candidato do Partido FRELIMO ao cargo de Presidente da República de Moçambique, face aos protestos populistas de Venâncio Mondlane, auto-proclamado Presidente da república de Moçambique e candidato do partido PODEMOS, actualmente declarado partido líder da oposição das últimas eleições e que lidera as manifestações por contestar a vitória nas eleições de Moçambique, envolve uma compreensão profunda do contexto político, histórico e psicológico das figuras envolvidas.
A seguir, apresento uma reflexão que integra as perspectivas pan-africanista e psicanalítica para entender suas trajectórias e posturas, à luz dos desafios e tensões que marcaram o cenário eleitoral recente deste país africano da lusofonia.
Para compreender as movimentações políticas de Daniel Chapo e Venâncio Mondlane, é necessário considerar como essas figuras se posicionam frente ao legado histórico e político de Moçambique e como suas trajectórias refletem uma tensão entre a continuidade de certos modelos de governação e a busca por mudanças estruturais, que são características fundamentais no pensamento pan-africanista.
Daniel Chapo, substituto de Filipe Nyusi, líder do partido FRELIMO, foi recentemente eleito segundo a comissão eleitoral Moçambicana, presidente de Moçambique, a sua ascensão ao poder reflete a preservação de uma narrativa que remonta à luta pela independência contra o colonialismo português e pela construção do Estado moçambicano centrado num sistema político forte que se tem apresenta como “guardião da soberania nacional de Moçambique” e da memória de um movimento de libertação que foi fundamental para a identidade nacional desta nação do Índico.
A FRELIMO, agora sob a liderança, de Daniel Chapo que discursou recentemente na sua investidura, defende a preservação da unidade nacional, principalmente em tempos de instabilidade e de desafios econômicos e sociais.
Para Daniel Chapo, o Estado é visto como o principal agente de continuidade da luta pela independência, combate a corrupção e isso implica não apenas um vínculo com o passado histórico da luta contra o colonialismo, mas também com a necessidade de manutenção do poder como uma forma de evitar o colapso da estrutura construída após décadas de conflito.
O discurso de Daniel Chapo, na perspectiva psicanalítica, pode ser lido como uma reacção ao trauma colectivo que o país vive actualmente, marcado pela guerra civil e pelos conflitos pós-independência e agora com as convulsões sociais causadas pelos resultados das eleições gerais.
Daniel Chapo agora fica associado à figura do “libertador de Moçambique das más práticas de governação” as pressões de uma população cada vez mais insatisfeita com a ineficiência do Estado, leva o actual Presidente da República de Moçambique a uma posição mais defensiva, para proteger sua autoridade e a imagem do FRELIMO como a força fundadora da nação.
Já Venâncio Mondlane no contexto pan-africanista, se insere numa linha de pensamento que defende a descolonização não apenas política, mas também econômica e social. Ele busca trazer à tona a ideia de que o verdadeiro processo de independência de Moçambique ainda não foi plenamente alcançado, já que o país continua dependente de práticas e estruturas herdadas do colonialismo, principalmente em relação à distribuição de recursos e ao controle do poder político.
Mondlane revela uma figura que, ao contrário de Daniel Chapo, carrega um sentimento de frustração com a não realização das promessas de liberdade e justiça social que marcaram a luta pela independência e a sua luta política.
Sua postura de oposição pode ser vista como uma resposta ao trauma de um país que não cumpriu as expectativas de igualdade e desenvolvimento que a luta pela independência do país prometia.
Como líder das manifestações pós-eleições, Mondlane se posiciona não apenas como um adversário político de Daniel Chapo, mas como uma figura que tenta curar os traumas colectivos da nação, desafiando a hegemonia da FRELIMO e buscando uma alternativa que recupere as ideais de liberdade e igualdade.
As últimas eleições gerais em Moçambique não podem ser compreendidas apenas como um jogo político entre adversários, mas como um reflexo das lutas internas e conflitos psíquicos colectivos de uma nação que ainda vive as cicatrizes de seu passado colonial e das divisões pós-independência.
O confronto entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane é, em muitos aspectos, uma disputa pela definição do futuro do país e pela afirmação de identidades políticas que representam dois caminhos diferentes. O da continuidade e do status quo, versus o da mudança e da recuperação de um projecto social mais inclusivo.
Em termos psicanalíticos, a luta entre as figuras de Chapo e Mondlane pode ser vista como a manifestação de uma nação que busca se reinventar. A tensão entre o desejo de manter a estabilidade e o anseio por transformação, ambos carregados de significados simbólicos e psicológicos, reflete o estado actual de Moçambique como uma sociedade ainda lidando com os traumas de sua história e a busca por uma nova identidade colectiva.
Por fim, a análise pan-africanista e psicanalítica do comportamento de Daniel Chapo agora investido Presidente de Moçambique e Venâncio Mondlane líder da oposição das últimas eleições gerais de Moçambique revela duas abordagens contrastantes sobre o futuro do país. Chapo, na sua busca por continuidade, encarna os legados da luta pela independência e as dificuldades da governação pós-colonial.
Mondlane, por sua vez, representa a busca por uma renovação política e social, desafiando as estruturas de poder e propondo uma alternativa que reconcilie a nação com suas promessas de justiça e igualdade. Ambos são reflexos das tensões que marcam a identidade e os destinos de Moçambique no século 21, uma nação em constante reinvenção, mas ainda profundamente marcada por seu passado.
O futuro político de Moçambique agora está nas mãos dessas duas figuras incontornáveis da política Moçambicana e que se espera várias batalhas no campo das ideias políticas africanas e com certeza marcam um novo tempo das movimentações políticas no contexto da lusofonia e da África no Geral. A África escrevendo a sua própria história. UBUNTU!