MONDLANE JÁ EM MAPUTO E DIZ QUE ESTÁ DISPONÍVEL PARA DIÁLOGO E ACUSA REGIME DE “GENOCÍDIO SILENCIOSO”
O candidato presidencial Venâncio Mondlane acusou hoje as autoridades moçambicanas de “uma espécie de genocídio silencioso” na repressão à contestação dos resultados das eleições gerais, mas manifestou-se disponível para o diálogo e para negociar.
“Quero quebrar a narrativa de que estou ausente por vontade própria da iniciativas de diálogo, estou aqui em carne e osso para dizer que se querem negociar, dialogar comigo, querem ir à mesa de negociações estou aqui presente para o diálogo”, disse Mondlane, em declarações aos jornalistas pouco depois de aterrar em Maputo.
O candidato presidencial que lidera a contestação às eleições gerais de 09 de outubro justificou ainda o seu regresso com o facto de não poder continuar fora do país quando o povo “está a ser massacrado”.
“Eu acho que não posso estar ao fresco, bem protegido, quando o próprio povo, que está no suporte da minha candidatura, dos meus valores, está a ser massacrado”, disse.
“Apercebi-me que o regime optou por uma estratégia de criar uma espécie de genocídio silencioso, as pessoas estão a ser sequestradas nas suas casas, estão a ser executadas extrajudicialmente nas matas, estão a ser descobertas as valas comuns com supostos apoiantes de Venâncio Mondlane”, acrescentou o candidato.
Questionado sobre se regressou por estar já negociado um acordo político, Mondlane respondeu que não porque o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, “nunca satisfez” as suas condições para negociar.
Sobre se está disposto a assumir um cargo executivo, o candidato presidencial referiu que a única função que pretende assumir é a de “defender este povo, de lutar por este povo, lutar pela verdade, lutar pela justiça, lutar pelos valores”.
“Eu não fiz esta luta toda para ser chefe, para ter benefícios financeiros ou materiais”, disse, reiterando que não aceita os resulatados eleitorais que foram anunciados e que dão a vitória ao candidato apoaido pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, no poder), Daniel Chapo, cuja posse está marcada para 15 de janeiro.
“Nunca aceitarei fazer parte de nenhum executivo que provenha destes resultados falsários, manipulados e burlescos”, disse. O candidato manifestou-se ainda disponível para se defender perante a justiça e provar quem são “os verdadeiros culpados dos crimes hediondos que aconteceram até hoje”.
Mondlane referiu ainda que quer estar no país “nos bons e nos maus momentos como um elemento ativo, como um sujeito histórico ativo” para debater o desenvolvimento de Moçambique, garantindo que o vai fazer no país.
“Eu quero fazer isso aqui dentro do país, independentemente dos riscos associados a essa situação, quero fazer a luta dentro deste país e vou até às últimas consequências para continuar a lutar por este país”, afirmou.
“Não me interessa o que eu vou passar, mas eu vou a Moçambique e vou provar que eu não estive em Moçambique por medo, por receio de ser morto, de ser preso, isso são coisas pequenas, temporais, passageiras.
O que faz história são os valores que tu defendes, é o sacrifício que estás disponível a passar a favor dos outros, a favor da unidade”, acrescentou. Mondlane deixou o aeroporto, zona sob um forte dispositivo de segurança, em direção ao centro da capital moçambicana e a comitiva está a ser acompanhada por milhares de pessoas a pé.
Confrontos entre a polícia os manifestantes já provocaram quase 300 mortos e mais de 500 pessoas baleadas desde 21 de outubro, segundo organizações da sociedade civil que acompanham o processo.
O Ministério Público abriu processos contra o candidato presidencial, enquanto autor moral de manifestações que, só na província de Maputo terão causado prejuízos, devido à destruição de infraestruturas públicas, no valor de mais de dois milhões de euros, O Tribunal Supremo já afirmou, anteriormente, que não há qualquer mandado de captura emitido para Mondlane nos tribunais.