IMPORTADORES E PROPRIETÁRIOS DE GRANDES SUPERMERCADOS NO PAÍS INFLUÊNCIA MINISTÉRIO DA SAÚDE PARA BLOQUEAR A PRODUÇÃO NACIONAL
O comunicado do Ministério da Saúde (MINSA), que alerta a população, após identificar casos de intoxicação alimentar que resultaram em duas mortes em várias unidades de saúde, foi recebido com ceticismo no seio dos angolanos.
ANA MENDES
Esta intoxicação compromete a força muscular devido a substâncias químicas como pesticidas, inseticidas e compostos cianogênicos, presentes na mandioca e nas folhas de kisaca.
O MINSA recomendou que mandioca, ginguba, batata-doce e batata-rena sejam consumidos apenas após lavagem com água quente e cozedura ou fritura.
A mandioca deve ser fervida por pelo menos 50 minutos antes do preparo, e, para o uso em bombo, farinha ou fubá, deve ser lavada três vezes antes da secagem.
Além disso, o ministério aconselha a não reaproveitar a água utilizada no preparo da mandioca.
As folhas de kisaca e ramas de batata-doce devem ser fervidas por 25 a 30 minutos antes de serem cozinhadas. Todas as hortaliças cruas devem ser lavadas com água fervida ou tratadas com cinco gotas de água sanitária por litro de água.
O QUE O POVO DIZ
Em reacção ao comunicado do MINS, muitos cidadãos contactados por este jornal, concluíram, tratar-se de uma influência de importadores e proprietários de supermercados, que veem os seus negócios estagnados nas lojas devido o fraco poder de compra.
Marina Quissanga 34 anos de idade e vendedora de gingumba na praça de Catinton, diz que é mais um “truque” dos importadores que influenciaram o Ministério da Saúde para tomar tal medida.
“Os supermercados onde alguns governantes são sócios, estão as moscas, ninguém lá vai porque os preços são altos. Por estarem aflitos, são obrigados a tomarem estas medidas”, desabafou.
Segundo a senhora, a lavagem dos alimentos é uma decisão boa e sempre o fizeram.
“Mais aqui há uma mão oculta”, acrescentou.
Uma outra vendedora de mandioca e Kizaka no mercado de Calemba II, Joaquina Pambo, diz que essa medida vai ainda colocar milhares de angolanos a passar dificuldade que dependem deste negócio.
“Nas ruas da capital muitos de nós ganhamos o nosso pão com a venda de mandioca e ginguba. Essa medida é para mesmo bloquearem a produção nacional que já está a resolver problemas alimentares de angolanos”, disse.
Para o sociólogo Pedro Santana Buta, o aumento da produção nacional está a preocupar os importadores, que estão ameaçados com a ausência de milhares de angolanos nos supermercados.
“Hoje todo a gente de classe alta, média e baixa, vão aos mercados do 30, Kikolo (…), São Paulo e Funda, onde os produtos nacionais são mais baratos. Vendo isto, estes (importadores e donos de supermercados) sentem-se ameaçados”, referiu.
O ancião Coxi Sebastião que vive no bairro Palanca, diz que enquanto os preços da cesta básica não reduzirem os angolanos não vão cumprir esta circular.
“A medida é bem-vinda. Mas o actual momento, isto não vai funcionar. Há quantos anos é que comemos mandioca crua, ginguba e não temos problema. Este é um truque das autoridades”, sublinhou.
Para Mavango Pedro que vende no mercado da Estalagem, essa medida é mais uma conversa “para o boi dormir”, porque ninguém vai cumprir.
“Para ferver esses produtos há 30 e 50 minutos, o gaz está acro, o carvão idem. São todas medidas para penalizar o povo, a semelhança que AGT está a fazer com o encerramento das lojas”, observou frisando, que essas medidas vão acabar por prejudicar a já imagem do Executivo deteriorado há muito tempo.
“Não sabemos o que eles querem. Ora dizem diversificação da economia, ora isto ou aquilo. Já não entendemos”, disse este cidadão bastante preocupado.
Para o analista político, Adão Oliveira Romão, muitas destas medidas devem ser anunciadas com “muito cuidado”, porque o povo já não sabe onde recorrer com o custo de vida muito elevado.
“As autoridades da saúde devem analisar cuidadosamente esta situação. Em Angola é essa comida que alimenta milhões de pessoas, há milhares de anos. Ao comunicar esta situação é preciso pensar muito”, disse concordando também com algumas vendedoras.
“É verdade o mundo do comércio é complexo. Isso poder ter uma mão oculta”, finalizou.