PETRÓLEO EM CABINDA A “MALDIÇÃO” QUE HUMILHA OS SEUS HABITANTES

A pobreza na província de Cabinda rica em petróleo, continua a ser uma realidade que ao que parece ainda vai permanecer por muito mais tempo, caso nada se faça para se inverter o quadro.
Vários programas foram anunciados e outros implementados, contudo o quadro ainda preocupa.

ANA MENDES

O Governo local não tem feito o suficiente para inverter o quadro critico sobre tudo nos sectores da saúde, onde os hospitais prestam serviços débeis à população, desemprego, alta de preços dos produtos básicos de consumo e a consequente falta do poder de compra da população, falta de água potável e de luz eléctrica e degradação das infra-estruturas publicas.

“Não é possível um território rico em recursos naturais tais como: Petróleo, Madeira, Manganês, Fosfato, Ferro, Urânio, Cobre, Ouro, Diamante, Potássio e Água e, com um subsolo fértil para o cultivo de uma variedade de culturas agrícolas e não só. Continua a ter o povo a viver numa extrema pobreza e miséria. O que é injusto e terrível”, disse o economista António Lembe Zau.

Os fundos atribuídos por Luanda não satisfazem as necessidades da população de Cabinda. Cidadãos questionam o paradeiro das verbas, acusando as autoridades centrais de não usarem os montantes em benefício do enclave.

A falta de dados públicos leva vários residentes em Cabinda a queixarem-se da pouca transparência na distribuição dos fundos, já que para alguns cidadãos os benefícios do programa não são visíveis.

“Há tanta gente à volta dos contentores à procura de pelo menos um pão. Não estamos a ver nada do que se está a fazer ao nível da província, porque ainda há muita gente a morrer à fome. Devemos usar o dinheiro para o bem de todos e não apenas para uma elite organizada”, diz António Pacata, oficial dos direitos humanos.

Segundo ele, a província de Cabinda sofre com exclusão das políticas do Governo central.

No interior da província a situação é mais grave, há falta de quase tudo um pouco, desde a estabilidade politico-militar e a estabilidade social.

“A realidade desta região com abundantes recursos naturais no seu subsolo, não se reflecte no dia a dia das pessoas que dizem viver na pobreza”, disse o sociólogo António KItumba salientando que, a situação social e económica dos Cabindas é um “inferno”.

Na província de Cabinda, os jovens pedem mais atenção e direitos iguais quando se trata de oportunidades de emprego no país. Entenderem que nem sempre os processos de recrutamento são transparentes.
“A questão do desemprego em Cabinda é um problema que está a afetar muito a juventude, porque é inacreditável que quando se monta um shopping prioriza-se mais as pessoas de Luanda. Será que Cabinda não tem pessoas capacitadas? Tanto é que o emprego que se dá aos cabindas é simplesmente de segurança”, lamenta o jovem João Sungo.

“Acho que o Governo deveria criar mais políticas de emprego, políticas empresariais que possam criar mais oportunidade de emprego, isto é, apostar na agricultura que é uma das bases do desenvolvimento industrial, na desminagem, sabemos que depois das guerras, há muitas terras aí minadas”, acrescentou.

CANCELAMENTO DE 10/% AGRAVOU A VIDA EM CABINDA

A província recebia antes, 10% de royalties do petróleo que lhe deveriam ser destinados.

O cancelamento da alocação da verba tem sido motivo de contestação por parte da população local.

Durante vários anos, Cabinda recebeu mensalmente cerca de 6 milhões de dólares pela exploração de petróleo, correspondendo na altura a 10% das receitas fiscais cobradas às multinacionais petrolíferas que operam naquela província. 

A verba era disponibilizada pelo Governo central ao governo local, para ajudar no desenvolvimento de diferentes setores. 

Em 2010, sem grandes justificações, Luanda decidiu cortar a atribuição destas receitas, o que, segundo a população local, trouxe implicações negativas à vida no enclave.

Segundo habitantes locais, o povo de Cabinda merece a alocação de mais verbas tendo em conta a sua contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB) angolano.

“Se Angola destinasse 10% das receitas obtidas com o petróleo no desenvolvimento social e infraestrutural da província, claro que Cabinda conheceria muitas formas de desenvolvimento, isto se tivesse bons dirigentes”, diz o economista Raul Buanga.

As populações de Cabinda, tem acompanhado com “bastante preocupação” a crise energética em Cabinda.

O ano de 2024 está sendo marcado para todo povo de Cabinda a pior situação elétrica dos últimos tempos, entretanto, sem a presença de um plano por parte do Governo Provincial.

Com a actual situação da energia elétrica na província de Cabinda, os problemas aumentaram, consideravelmente, para a população que dia após dia vê a sua alimentação a estragar por falta de medidas preventivas.
“Esta crise energética vai comprometendo o funcionamento normal das empresas e estragando muitos frescos na casa do pacato cidadão”, diz o cidadão Tião Luemba.

Segundo este, Cabinda não possui grandes reservas de gás e isso dificulta no curto prazo a diminuição da reinjeção do mesmo que tem prejudicado a população.

Cabinda é uma das 21 províncias de Angola, localizada na região norte do País, sendo a mais setentrional e também único enclave da nação. A capital é a cidade e município de Cabinda.

Segundo as projeções populacionais de 2018, elaboradas pelo Instituto Nacional de Estatísticas, conta com uma população de 801 374 habitantes e com uma área territorial de 7 283 km², sendo a província mais densamente povoada de Angola depois de Lanuda.

Administrativamente, a província é constituída pelos municípios Cabinda, Cacongo, Buco-Zau e Belize.

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