MORRER É RIDÍCULO – ROSSANA MIRANDA

O ano era novo e eu vivia com algum medo e ansiedade. Ao descobrir que estava grávida aos 24 anos, sentia que tinha de fazer me à vida. Colaborar com a TPA, apenas, não chegava.  Eu pensava em tudo…olhava para o meu redor e percebia que as coisas não podiam continuar daquela maneira. Dormíamos numa cama de solteiro, tínhamos 4 puffs, e um conjunto de mesa e cadeiras espera condições que a minha mãe nos havia dado.

Lembro-me de ligar para este e aquele à procura de uma nova oportunidade… e foi nessa altura que falei com a Paula Simons.

Liguei-lhe a pedir ajuda “Paula, estou grávida de 6 meses, mas preciso de um serviço extra”.

“O que achas de colaborares com a LitoMídia”? respondeu.

Ligou-me de volta dias depois “Temos um trabalho para ti, para um evento. O Ismael ficou contente ao saber que vais estar connosco”.

Era apenas um trabalho para ganhar 500 dólares, mas acabei por fazer 3.

Ao ver a minha performance, o Ismael (Mateus), acabou por contratar-me em estado avançado de gravidez. E assim me iniciei no mundo da Comunicação Institucional, com o Ismael Mateus aprendi toda a base de RP (Relações Públicas), isso em 2004.

Tive pena quando, dois anos depois, informei o que tinha chegado a hora de rumar por outros mares, contudo deu-me muita força e comentou que sabia que mais tarde ou mais cedo aquilo aconteceria.

Nunca me esqueci da experiência e envaidecia-me ao dizer que o Ismael Mateus tinha sido o meu grande mentor neste ramo da comunicação.

Em 2011, convidou-me para apresentar o seu livro Laços de Sangue, no acto de lançamento e não me contive. “Eu mesmo Ismael??? Sim tu… e porque não?”. Li o livro em dois dias e lá fui para a União dos Escritores viver mais um desafio e uma grande momento pessoal.

Regozijo-me de ter tido tempo de conhecer e conviver com alguns dos maiores Jornalistas deste País. O Ismael para mim é um ícone, um dos mais completos profissionais, um homem singelo que apostou numa miúda grávida de 6 meses, que dizia que acreditava no meu potencial e que muito me respeitava. Em 2019, falamos do meu livro de poesia… eu queria que fosse ele a editar mas a vida e as suas incongruências não jogaram a nosso favor. Voltamos a falar no passado dia 11 de Setembro e ele disse-me que estava muito feliz por ter notícias minhas.

Hoje, quando soube que o Ismael havia partido, elevou-se em mim uma ausência de tudo, uma desolação e falta de encanto. Cheguei ao serviço e chorei tanto e sem dar conta tinha colegas a perguntarem o que se passava e a pedirem desculpa por não saberem de quem se tratava.

Infelizmente Angola não cultiva referências, estamos a edificar um País de gente vazia.Tenho tanto para escrever, porém temo que seja enfandonho. Ao Ismael Mateus um aplauso de enlevo, êxtase e graça. Estou desconsolada, a morte suga a nossa energia…parafraseando o meu outro grande ícone Pedro Bial: Morrer é ridículo!
Rossana Miranda

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