POR INCOMPETÊNCIA: A FALTA DE CASAS DE BANHO NAS ESCOLAS PÚBLICAS DE LUANDA É UM PROBLEMA RECORRENTE
O cenário repete-se a cada ano lectivo e já é preocupante. Ao que parece, os órgãos de fiscalização do Ministério da Educação andam adormecidos Escolas sem balneários uma ronda efectuada por este jornal permitiu apurar o quadro desolador em que de encontram muitas escolas do município de Luanda, Kilamba Kiaxi, Viana, Belas e Cazenga.
Boa parte destas se têm compartimentos concebidos para WC estão encerrados por falta de água. Por isso, os alunos e professores urinam lá onde poderem, junto as árvores ou paredes das escolas.
Em muitos casos, o ambiente é mesmo assustador, com algumas fossas entupidas e a exalar cheiro nauseabundo. “Está tudo entupido.
Por não termos outra opção, os alunos estão sujeitos a urinar e a defecar em qualquer lugar, concluindo o ambiente, o que constitui um atentado à saúde pública”, conta um professor amargurado pela desordem, mas com as ‘mãos atadas’, “por nada poder fazer”.
De acordo com este professor abordado pelo Pungo a Ndongo, há muitas escolas que não
possuem instalações sanitárias adequadas, o que também afecta na qualidade do processo de ensino e aprendizagem.
Os alunos também sentem mal com o panorama, mas não têm outra opção. “Temos de fazer tudo ao ar livre”, atira um jovem de 15 anos que estuda a 9ªclasse. “Por vezes temos de recorrer aos quintais de vizinhos da escola”, conta.
Um encarregado de educação identificado por Lucrécio da Silva, diz que tem três crianças a estudar em escolas públicas, mas estas não têm casas de banho e quando os petizes precisam de fazer necessidades maiores, o professor manda-os para a casa.
“As nossas escolas públicas precisam de mais higiene, a exemplo dos colégios privados. Penso que o Estado deve obrigar os gestores destas unidades escolares a serem mais criativos para evitar as imundícies no recinto escolar”, referiu Lucrécio da Silva.
De acordo ainda com ele, o Estado deve investir mais no ambiente saudável nas instituições de ensino público em particular nas escolas primárias, onde estudam milhares de crianças. “Vou ser mais claro: acho que as direcções das escolas primárias se deviam preocupar com as condições das casas de banho. Tem de haver dinheiro para esse fim”.
“Tem de haver verbas para tratar de serviços que não envolvem elevados custos, como a
limpeza das casas de banho, que podem constituir-se em focos de doenças”, observou, notando que o pelouro da Educação devia copiar os bons exemplos existentes pelo mundo, como num país latino-americano, onde um ministro visitou uma escola primária e a primeira coisa que fez foi dirigir-se às casas de banho antes de se reunir com a sua direcção.
“Esse ministro queria, certamente, avaliar o grau de organização da escola e que atenção se prestava às crianças e aos professores no que diz respeito ao ambiente em que estudavam.
Acho que a nossa ministra da Educação e a Directora do Gabinete Províncial da Educação de Luanda, deveriam seguir esse exemplo, e não é só ficar no gabinete!”, aconselhou, já que, na sua visão, “não se pode admitir isso. A falta de casas de banho acaba por ser um vector de doenças para as nossas crianças”,
Isalino Mendes estuda no colégio público Ngola Kiluanje. Para ele, com as casas de banho encerradas, “não temos outra saída que não seja urinar nos cantos das paredes”. Lamenta, uma situação que parece não ter fim à vista.
À semelhança de Isalino Mendes, outros alunos admitiram terem passado pela mesma situação, sempre que vão a escola. No seu entender, o Governo da Província de Luanda devia encontrar, com urgência, uma saída para contornar o actual quadro, que ensombra a imagem das escolas da cidade da Kianda.
A falta de urinóis públicos é outro mal que ensombra ainda mais o quadro. Um urinol há muito erguido nas imediações do largo das escolas, anda com as portas encerradas, quando seria uma alternativa viável para os alunos que estudam nas cercanias.
Acesso a 58 por cento
Segundo um estudo efectuado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) e pela Direcção Nacional do Ensino Geral do Ministério da Educação em anos anteriores, a média de acesso dos alunos a uma casa de banho era de apenas 58 por cento, sendo que 23,5 por cento usam latrinas. Mesmo ao lado da escola, a prática de defecação ao ar livre acontece em 44 por cento dos casos. Somente 35 por cento das escolas têm água para beber disponível e 62 por cento não possui qualquer fonte de água potável.
O estudo conjunto observou as condições de água e saneamento em 600 escolas primárias
de seis províncias, a destacar Luanda, Cunene, Bié, Huíla, Namibe e Huambo tendo chegado
à conclusão que cada uma das escolas visitadas “carece de um ambiente higiénico sanitário favorável”.
O estudo “Água e saneamento nas escolas de Angola” destaca que “em média cerca de 310
alunos partilham um cubículo, o que se transforma num factor inibidor para o acesso aos
quartos de banho ou latrinas”.
Outro factor especificado, refere, é o acesso a água para beber, pois somente 35 por cen-
to das escolas tem água para beber disponível e 62 por cento não possuem qualquer fonte adstrita.
“A média de acesso pelos alunos a casas de banho é de 58 por cento, sendo o uso de latrinas
de 29 por cento, e a prática de defecação ao ar livre de cerca de 45 por cento. Nestas situações 44 por cento defecam ao lado da escola e 45 por cento no mato”, sublinha o estudo.
Por outro lado, avança ainda, o diagnóstico teve como objectivo analisar os possíveis obstáculos ou áreas de estrangulamento ao programa de água, saneamento e higiene nas escolas em Angola. Uma avaliação serve para abrir caminho a um debate sobre o acesso à água, saneamento e higiene, bem como no planeamento e orçamento adequada para escolas primárias.
SEM INVESTIMENTO
Alem disso, uma das razões apontadas para o agravamento situação é a falta de investimentos públicos quer a nível das escolas como das administrações municipais para que se possa manter as operações e a manutenção diariamente. Algumas escolas do ensino primário carecem de adjudicação directa de fundos e estão impossibilitadas de fazer gastos constantes.
“Estes números demonstram que as escolas podem ser um espaço pouco favorável para
a promoção da saúde das crianças visto que as doenças diarreicas, causadas na maior par-
te das vezes pela falta de saneamento e fraco acesso a água potável, são responsáveis por
18 por cento das mortes de menores de cinco anos, sendo muito comuns em crianças em idade escolar”, indicou a mesma.