O DRAMA DE UM MBAKU – JOÃO NIANGO NGOMBO KINA

Você sabia que na cultura Bakongo, se um casal não consegue fazer filhos, os familiares têm o direito tradicional e cultural de pôr um fim a este relacionamento ou casamento?

A ESTERILIDADE NO CASAMENTO: Uma Reflexão Profunda sobre Valores Culturais e Sociais da Etnia Mukongo.

A procriação, ao longo da história, tem sido considerada um dos pilares fundamentais do casamento em muitas culturas ao redor do mundo. A fecundidade não apenas é vista como uma bênção, mas também como um elemento essencial para a estabilidade e união dentro do casal e da família ampliada. A capacidade de gerar filhos não apenas estende a linhagem dos pais, mas também garante a eterna continuidade do ser humano na terra e no universo. No entanto, por estes motivos e por motivos culturais, na cultura Bakongo, a esterilidade é frequentemente encarada como uma desgraça, um obstáculo que pode levar à dissolução do casamento.

A VISÃO DO GRUPO ÉTNICO KONGO, BAKONGO.

Em algumas culturas, como por exemplo, na cultura Bakongo, os tios matrilineares (Ngudi ze Nkasi), pai-mulher (Se dia kento), Nfumu ze makanda (chefes de família matrilinear) são os mais visados e notáveis acusadores desta desgraça, por algum motivo qualquer ocorrido antes do casamento ou mesmo na véspera do alembamento. Como observado nas práticas dos tios matrilineares, pai-mulher e chefes de família matrilinear, a esterilidade é vista como uma questão de honra e status. Aqueles que não conseguem ter filhos podem enfrentar pressão social significativa e até mesmo acusações de terem causado a desgraça. Os dotes matrimoniais podem ser questionados, e a família do cônjuge estéril pode ser responsabilizada por não ter cumprido adequadamente com suas obrigações.

DEFINIÇÃO DE ESTÉRIL NA CULTURA BAKONGO.

Na cultura Bakongo, um indivíduo pode ser definido como estéril se ele ou ela for incapaz de gerar filhos biológicos. A esterilidade é vista como uma desgraça e pode levar à pressão social significativa, acusações e até mesmo à dissolução do casamento. Os critérios para determinar a esterilidade podem incluir a ausência de concepção após um período considerável de tentativas, conforme percebido pelos familiares e avaliado pelos Nganga a Ngombo (ou médicos espirituais) e outros líderes tradicionais e religiosos.

A INTERVENÇÃO DAS FAMÍLIAS.

O processo de lidar com a esterilidade dentro do casamento muitas vezes envolve a intervenção das famílias envolvidas. Reuniões são realizadas, ideias são trocadas e, em alguns casos, são feitas tentativas para remediar a situação. No entanto, em última análise, se as expectativas não são atendidas, a dissolução do casamento pode ser considerada. Esse é um desfecho que, embora raro, demonstra a seriedade com que a esterilidade é encarada na cultura Bakongo.

O COMPONENTE ESPIRITUAL NA QUESTÃO DA ESTERILIDADE.

Além das pressões sociais e familiares, também há um componente espiritual envolvido na percepção da esterilidade. Recorrer a um nganga a ngombo (médico espiritual) para diagnosticar a origem do problema revela uma crença enraizada na influência de forças sobrenaturais sobre a fertilidade no seio dos Bakongo. Essa busca por respostas transcende o domínio do físico e reflecte a complexidade das crenças e práticas culturais relacionadas à procriação.

Em contrapartida, um NGANGA NGOMBO utiliza sempre a sabedoria e a pedagogia antes do tratamento com palavras como estas: “É importante reconhecerem que a esterilidade não deve ser vista como uma falha individual ou uma punição espiritual, mas sim como uma condição que pode afectar qualquer casal. A compreensão e empatia são essenciais ao lidar com essa questão sensível, e a pressão social e familiar não deve obscurecer a importância do amor e apoio mútuo dentro do casamento.”

OPINIÃO PESSOAL.

A reflexão sobre a esterilidade no casamento nos leva a questionar não apenas as normas culturais e sociais que a cercam, mas também nossa própria compreensão da família, do casamento e da fertilidade. É um convite para uma conversa mais ampla sobre valores, expectativas e como podemos nos apoiar uns aos outros diante dos desafios que a vida nos apresenta.

(*) MBAKU: Um homem esteril.

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