EMPRESA CARRINHO E MILITARES ACUSADOS DE DESVIAREM ALIMENTOS DAS FAA PARA O MERCADO INFORMAL

As comerciantes de produtos de marca Ngusso como conservas, leite em pó e líquido, óleo vegetal, sabão azul embalado e sabonetes fornecidos pela empresa Carrinho em exclusivo para os militares, mas aparecem à venda em grandes quantidades no mercado informal.

Segundo os comerciantes dos mesmos produtos, os militares das Forças Armadas Angolanas e alguns dirigentes da empresa Carrinhos, é que enviam contentores de mercadorias para comercializar no mercado informal.

“Os contentores chegam de madruga e nós os clientes organizamos o dinheiro e pagamos no boss que é responsável de trazer os produtos em grandes quantidades para serem distribuídos e comercializados em vários mercados” disse a senhora Guida de nome fictício.

O ENVOLVIMENTO DOS MILITARES NO ESQUEMA DA VENDA DOS PRODUTOS

De acordo com a fonte deste Jornal, grande parte dos produtos enlatados que são comercializados a retalho no mercado informal em Luanda vêm das unidades militares. Ou seja, são os militares que “trazem” os produtos de primeira necessidade das unidades e comercializam em grandes quantidades às senhoras nos mercados informais, no interior dos bairros e nas cantinas.

O chouriço enlatado, conservas, leite em pó e líquido, óleo vegetal, sabão azul, sabonetes da marca Ngusso, e a pasta de dente Especial fazem parte dos produtos que os militares mais comercializam em grandes quantidades, além de arroz, massa e feijão.

Os mercados da Guarita no município do Kilamba Kiaxi, Bairro da Madeira na rua dos Quartéis, e Estalagem no município de Viana, são os locais onde existe maior diversidade destes produtos abastecidos maioritariamente por militares, apurou o Expansão durante uma ronda feita esta semana em alguns bairros e mercados informais da capital

“Para comprar em grandes quantidades temos de vir entre as 5 e as 6 horas da manhã. É o período em que os militares aparecem de carro para despacharem o negócio”, afirmou Idalina Valente, vendedora de diversos produtos na estrada de Catete/zona do bar.

A mulher afirma que tanto ela e como as suas companheiras compram os seus produtos apenas aos militares por causa dos preços acessíveis que praticam. “Nos militares os preços são mais baixos e para nós, revendedoras, o lucro é maior”, explica.

Segundo constatou o Expansão, os militares vendem também depois das 6 horas. Mas fazem-no de forma muito mais discreta, sendo que são “obrigados” a deixar a viatura com a mercadoria numa área pouco visível e depois vão contactar os possíveis compradores. Quando é fechado o negócio, estes arranjam formas de ir até à viatura e transferir a carga para um outro meio, que normalmente é uma motorizada de três rodas ou um carro de mão.

Aliás, as próprias vendedoras têm conhecimento de que os produtos que compram são retirados dos stock das unidades de forma ilícita. “A nossa negociação é muito discreta e ninguém pode se aperceber que o militar está a nos vender estas coisas porque pode dar problemas”, relata uma outra vendedora na rua dos Quartéis, localizada no bairro da Madeira, que preferiu o anonimato.

São também estes mercados que abastecem as cantinas nos bairros, embora haja comerciantes que têm os próprios fornecedores. “Não compro na praça porque tenho amigos militares e polícias que sempre que têm produtos aparecem para me vender” revelou um cidadão maliano no bairro Maculusso, que se identificou apenas por Ebraim.

O homem diz que normalmente compra entre 30 a 50 caixas de diversos produtos enlatados entre fiambre, azeite, ervilha, feijão e outros, às vezes com preços até 50% mais baratos em comparação com o mercado formal e sem ter gastos com transporte, uma vez que são os vendedores que trazem o produto.

“A caixa de 48 latas de leite condensado compro a 20 mil Kz e vendo cada lata a 750 Kz, a caixa de 24 pacotes de leite em pó da marca Bom Dia compro a 16 mil Kz e vendo cada pacote a 1.000 Kz”, disse Ebraim, que tem no primeiro um lucro de 16 mil Kz e no segundo 8.000 Kz.

Leia o artigo integral na edição 767 do Expansão, de sexta-feira, dia 15 de Março de 2024, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas.

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