MESMO COM FUBA E PEIXE PODRE: GRUPOS DE ESTRANGEIROS CONTROLAM SEGURANÇA ALIMENTAR
Segurança alimentar é hoje o “centro da agenda” do Executivo, o endosso vem do chefe da equipa económica do Governo, que terá de “combater” os “cartéis do comércio” dominado por grupos empresariais estrangeiros oriundos da Eritreia, Líbano, Mauritânia e Índia. Caso José de Lima Massano queira eliminar o monopólio dos lóbis do comércio no País, especialistas advogam que, primeiro, a produção interna tem de ser sustentável, principalmente da farinha de trigo, frango, feijão, arroz, fuba de milho, batata-doce e de outros bens de primeiras necessidades.
LUANDA POST
Há cinco meses, ao intervir durante um encontro com empresários e membros da Câmara de Comércio Angola e China, o ministro de Estado para a Coordenação Económica, José de Lima Massano, assegurou que o Executivo quer ver implementados mais projectos de investimentos no domínio da segurança alimentar, para isso um trabalho tem sido desenvolvido de forma coordenada entre os vários departamentos ministeriais para que no final do primeiro trimestre de 2024 seja concluído, anunciado e passe a funcionar.
Faltando menos de um mês para ser apresentado o prometido trabalho que venha a proporcionar segurança alimentar, a verdade é que, em todo o País, mais de dez grupos empresariais estrangeiros, de entre os quais eritreus, mauritanos, libaneses e indianos, detém o monopólio do sector do comércio, desvendam os números do Ministério da Indústria e Comércio.
Entre algumas empresas estrangeiras que fazem parte do grupo restrito que dominam o comércio e distribuição em Angola constam a Newaco Group, Atlas Group, Angorayan, Angoalissar, Alimenta Angola, Africana Discount, Dimassaba, Selmata, Rayan Investment.
Com a problemática da segurança alimentar no País, o ministro Massano e o governo do Presidente Lourenço procuram a todo o custo contrariar o quadro exposto acima, mas têm encontrado muitos obstáculos pelo caminho, colocados sobretudo pelos conhecidos cartéis da distribuição alimentar que são contra a produção nacional.
Em 2020, quando José Massano exercia a função de governador do Banco Nacional de Angola, aquela entidade deixou de disponibilizar divisas para a importação de bens alimentares cuja produção no País era auto-suficiente ou seria a médio prazo, e o Governo chegou a agravar as taxas aduaneiras, muitas vozes se levantaram contra e a favor da medida do Executivo.
Diante disso, empresários e gestores nacionais louvaram a decisão do Governo, acreditando que podia ajudar a acabar com o monopólio que os libaneses, indianos, mauritanianos e eritreus tinham e mantêm na importação de bens alimentares e outros bens perecíveis.
Passados quatro anos, percebe-se que os cartéis de estrangeiros no comércio controlam, de algum modo, a economia nacional, por essa ser refém das importações.
GUERRA ABERTA CONTRA A PRODUÇÃO NACIONAL
Há dois anos, depois de ter regressado dos Estados Unidos da América, o Presidente da República, João Lourenço, que esteve reunido a 13 de Dezembro de 2022 com o secretário de Estado e da Defesa dos EUA, Lloyd Austin, terá orientado o afastamento de empresas estrangeiras que forneciam abastecimento logístico às forças de defesa e segurança.
Pela forma como tudo foi feito, na altura, ficou claro que a aproximação de Angola aos Estados Unidos estava cada vez mais próxima e é preciso “limpar” algumas pontas soltas, a considerar o esforço global de combate contra o financiamento ao terrorismo.
“ENTRE ALGUMAS EMPRESAS ESTRANGEIRAS QUE FAZEM PARTE DO GRUPO RESTRITO QUE DOMINAM O COMÉRCIO E DISTRIBUIÇÃO EM ANGOLA CONSTAM A NEWACO GROUP, ATLAS GROUP, ANGORAYAN, ANGOALISSAR, ALIMENTA ANGOLA, AFRICANA DISCOUNT, DIMASSABA, SELMATA, RAYAN INVESTMENT”
Conhecido como intransigente no que se refere às questões de defesa da segurança nacional e numa reviravolta total, João Lourenço alia-se aos americanos numa altura em que o mundo enfrenta uma crise dos preços das matérias-primas do sector alimentar por conta da guerra entre a Rússia e a Ucrânia.
Em resposta aos actos do chefe de Estado, o lóbi estrangeiro da alimentação abriu uma guerra contra empresas angolanas que têm crescido no sector do comércio e distribuição alimentar; assim, tem sido cada vez mais frequente, nas redes sociais, meios de comunicação social, sendo as empresas mais afectadas a Nova Agrolíder, Freshmaket, Girassol, Deskontão, Jumbo e o Grupo Carrinho.
O preço do pão, um alimento importante para as famílias, tem sido um dos verdadeiros campos de batalhas, com empresários e associações angolanas a serem financiados por aqueles grupos estrangeiros, para criticarem todo o esforço que têm sido feitos para a estabilização dos preços.
Mas os adversários de João Lourenço não estão sozinhos, contam com ajuda dos seus próprios camaradas, aquele discurso da presidente do Tribunal Constitucional na tomada de posse do Presidente da República, ou as falas de Carlos Feijó, são na verdade um caminho aberto para os seus parceiros libaneses ligados às moagens que com algumas medidas estão a ver-se em dificuldade porque cada vez menos controlam os preços e a disponibilidade do trigo e da sua farinha e por consequência do pão.
“ESTE É UM ASSUNTO DELICADO E CUJOS DESENVOLVIMENTOS CONTINUAREMOS A SEGUIR PARA VER QUEM VENCERÁ: “O ESTADO, QUE SE COLOCA AO LADO DE NACIONAIS, OU DE NACIONAIS QUE SE ESCONDEM POR TRÁS DE ESTRANGEIROS ENDINHEIRADOS?”, ALERTAM OS NOSSOS INTERLOCUTORES”
Especialistas entendem que os grupos estrangeiros que operam a segurança alimentar do País estão inconformados da forma como, de forma consistente, o Presidente Lourenço tem insistido na produção nacional e na emancipação de empresários angolanos, e, pela primeira vez na história recente, reuniram-se de forma secreta numa unidade hoteleira da capital para concertarem formas de descredibilização de todo o esforço vindo do Palácio da Cidade Alta, para atacarem em bloco contra empresários que se vão destacando no sector.
Aos poucos vão impulsionando a ideia de que todos os grupos empresariais de nacionais estão ligados ao Presidente da República ou a seus auxiliares para os descredibilizarem.
Este é um assunto delicado e cujos desenvolvimentos continuaremos a seguir para ver quem vencerá: “o Estado, que se coloca ao lado de nacionais, ou de nacionais que se escondem por trás de estrangeiros endinheirados?”, alertam os nossos interlocutores.