MORTO PELO SIC: FAMILIARES EXIGEM INDEMMIZAÇÃO APÓS MORTE DE JOVEM À PORTA DE HOSPITAL
A família de um jovem que morreu junto ao Hospital Américo Boavida (HAB), em Luanda, exige uma indemnização para os órfãos e viúva, responsabilizando a instituição por “negligência” e as autoridades angolanas pela alegada agressão que o terá vitimado.
João Fernando Soma, 25 anos, morreu na terça-feira, à porta do HAB, onde lhe foi alegadamente negada assistência médica, e foi hoje sepultado no Cemitério do 14, perante a comoção da família, que pede justiça e lamenta a forma como foram “expulsos” da unidade hospitalar.
“Paizinho”, como também era conhecido no bairro da Boavista, Distrito Urbano do Sambizanga, em Luanda, deixou dois órfãos e viúva grávida, levando os familiares a pedir uma indemnização, uma residência, emprego e assistência para as crianças.
Na casa precária onde se realizou velório, localizada num bairro construído nas conhecidas “barrocas da Boavista”, Madalena Domingas, mãe da vítima, lamentou o infortúnio do filho, atribuindo a morte às agressões de que terá sido alvo por parte de um agente do Serviço de Investigação Criminal (SIC) e à postura do médico que lhe terá negado assistência do HAB.
Madalena Domingas, 55 anos, debilitada e com voz dolente, afirmou à Lusa que o filho terá sido agredido por um agente do SIC e por elementos da “Turma do Apito” (uma milícia privada de jovens que faz ronda naquele bairro), no Mercado de Paulo, onde fazia biscates transportando cargas num carrinho de mão.
João Fernando Soma terá embatido numa viatura, na passada semana, enquanto transportava mercadorias, facto que gerou um desentendimento com o motorista, que lhe exigia o pagamento de 3.000 kwanzas (três euros) para o arranjo, que o jovem não possuía.
Segundo Madalena Domingos, a falta de dinheiro do filho constituiu razão para que este fosse agredido, inicialmente pelo agente do SIC, que trabalha no Mercado de São Paulo, e depois por elementos da “Turma do Apito”.
As agressões de que terá sido alvo agravaram o seu estado de saúde à medida que os dias foram passado, o que levou a mãe a carregar o filho às costas até ao HAB, no Distrito Urbano do Rangel, em busca de assistência.
Madalena contou que, chegados ao banco de urgência da unidade hospitalar, o médico de serviço informou que não estavam a receber feridos e que deveriam dirigir-se ao Hospital Josina Machel.
“Eu disse que pelo menos fizesse os primeiros socorros e depois efectuasse a transferência, mas o senhor me deu as costas e entrou na sala”, lamentou Madalena, acrescentando que saiu do banco de urgência até ao portão com auxílio de um maqueiro.
“Mas na paragem (zona adjacente ao HAB) ele foi posto ao chão e (foi) aí onde, naquela demora toda de procurar táxi, o miúdo acabou por morrer no passeio”, explicou.
Após a morte do filho, revelou, uma equipa médica do HAB acorreu até ao local, mas ela impediu nessa altura qualquer aproximação à vítima: “Disse para não mexerem no meu filho”.
Com seis meses de gestação e mais dois filhos a cargo, a viúva Linda Mateus, 21 anos, está desempregada e pede ajuda para sustentar os filhos, exigindo que os responsáveis pela morte do marido sejam levados à justiça.
Indemnização à família, com registo aos órfãos, uma residência e emprego para a viúva, foram também solicitados pelo tio da vítima, Domingos Castro, que lamentou o “mau atendimento nos hospitais públicos”.
A direcção do HAB anunciou, na quarta-feira, a suspensão da equipa médica, na sequência do sucedido, e participou a ocorrência, por suposta negligência da equipa médica em serviço, junto do Serviço de Investigação Criminal (SIC), prometendo “responsabilização devida” do médico que terá negado assistência ao paciente.
Vários sectores políticos e da sociedade civil angolana repudiaram o alegado caso de “negligência médica”, a que se juntam outros relatados por utentes de hospitais públicos, pedindo responsabilização aos culpados.
A Lusa tentou contactar o SIC para obter esclarecimentos sobre a alegada agressão de que foi vítima o jovem, sem sucesso até ao momento.