NÃO HÁ PATRIOTISMO QUE SE AGUENTE DE ESTÔMAGO VAZIO
O “2.º Ciclo de Debates: O Dividendo da Paz em Angola: Os indicadores económicos, políticos e cívicos antes de 2002 e agora”, realizado recentemente em Luanda, serviu de “palco” para o director do Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN), o economista Alves da Rocha, verbalizar os seus sentimentos sobre a grave insegurança alimentar que o País vive desde 2017 para cá.
Sim, o caso não é para menos. O País está, sim senhor, a ser assolado por uma crise de segurança alimentar sem precedentes na sua História, que tem levado várias famílias à procura do que saciar a fome em contentores de lixo.
Prosseguindo. Alves da Rocha sublinhou ser indigno comemorar-se os anos de paz com tanta criança nas ruas a pedir um pão para comer”. Destacou que a ausência de guerra “é importante e inestimável mesmo”, contudo, a ausência de acções armadas não significa paz, “apenas novas condições para o acontecer do desenvolvimento” e do progresso, “os únicos e determinantes factores de unidade e reconciliação nacional”.
A insegurança alimentar vigente e a incompetência do Executivo deixaram desconcertado Alves da Rocha. Se a periclitante situação social e econômica do País e a inaptidão do Executivo abalam a estrutura psico-emocional, intelectual e política de um reputado economista da estatura de Alves da Rocha, quem sou eu para ficar indiferente?
Por isso, associo a minha voz à sua indignação e junto-me ao coro do seu lamento face à presente situação do País que, no meu juízo, traduz a falência das políticas sociais e económicas do Executivo, ínsitas nos sucessivos programas de Governo do partido no poder.
Angola vive hoje uma calamitosa situação de insegurança alimentar aguda, se partirmos do pressuposto de que segurança alimentar é o acesso pleno e regular aos alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais. Hoje, convenhamos, a maioria do povo não tem acesso pleno e regular a alimentos.
O término da guerra apanhou o Governo com as calças a meio dos joelhos; ou seja, o Executivo nunca esteve preparado para governar o País sem guerra. Ele está a ver-se à nora ao governar sem guerra. Para se manter no poder inventa as suas guerras, a mais violenta as quais parece ser a sua própria incompetência governativa.
No tempo da estulta guerra fratricida, a desculpa era fazer a guerra para acabar com a guerra. Para a guerra, toda e mais alguma prioridade. E o povo, este, consentia sacrifícios, porque entendia e queria a paz.
Passadas mais de duas décadas depois do final da guerra, a fome ainda é uma realidade presente na maioria dos lares de milhões de cidadãos que têm pouco ou quase nada, enquanto os poucos que têm milhões (aqueles que andam no arco do poder e à sua ilharga) não têm claramente uma solução para debelar a insegurança alimentar que se vive e transformá-la numa (má) lembrança do passado.
Enquanto isso, o cidadão vai tendo cada vez mais o estômago colado às costas. Todavia, convém lembrar o seguinte: não há patriotismo que se aguente de estômago vazio!