O SÍNDROME DOS GOLPES DE ESTADO EM ÁFRICA ASSUSTA JOÃO LOURENÇO

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Afinal o que representa para os angolanos a viagem de João Lourenço á Brazzaville? É notório que a viagem repentina a Brazzaville, mostra um caloroso abraço aflitivo dos afogados. Também a recomendação da secreta externa de estar de olhos bem abertos mostram a falta de estratégia e de programação das secretas. Elas nada representam para os angolanos que não se reveem nelas.

Por Raúl Diniz

A recomendação de João Lourenço, á direcção da secreta externa, mostra que a instituição é do governo e não do estado como deveria ser. A sua atividade orgânica serve apenas aos objetivos traçados pelo MPLA para beneficiar em exclusivo o regime instalado no país.

É verdade que Vivemos tempos diferentes em África, onde os ventos sopram e se propagam a todo vapor. Na sequência dos vários golpes de estado, a situação vivida no Gabão deixou a certeza do poder do povo.

Que ninguém duvide, pois, essa maneira peculiar de as forças castrenses em África, interpretarem o sentimento do povo, é uma demonstração clara e inaceitável dos regimes instrumentalizarem as elites no poder. Por outro lado, o povo embora desesperado por mudanças, acaba por aplaudir mesmo depreciando os golpes militares que infestam África.

Na prática o que trouxe o golpe de estado no Gabão, foi a certeza clara de que este modelo de eleições que se criou a partir da década de 90 do século passado não trouxe a mesa a discussão dos problemas candentes, nem tão pouco sanou os desafios da democracia, que servem de pretexto instrumental dos golpes de estado institucionais.

Em Angola, essa realidade é uma constante, aliás, mesmo antes da independência, o MPLA golpeou a revolta ativa, dirigida pelo primeiro presidente do MPLA, o intelectual Mário Pinto de Andrade, de qual faziam parte igualmente outros intelectuais como Gentil Viana Tico Monteiro e Gigi Monteiro dentre outros que não os cito aqui.

De seguida, o MPLA, golpeou igualmente Daniel Chipenda, o primeiro presidente da JMPLA, e valoroso comandante da zona Leste, a terceira região político-militar e líder da chamada revolta do Leste. No momento seguinte, o MPLA de Agostinho Neto, golpeou e assassinou valorosos comandantes da guerrilha, como Monstro Imortal, Bakalofe, Nito Alves e José Van Dunen dentre outros.

Sem esquecer o golpe da Dipanda que atirou o país contra a FNLA e UNITA, para possibilitar Agostinho Neto e o MPLA de proclamar unilateralmente a independência de Angola em 1975. Isso para sequer não me debruçar sobre os sucessivos golpes de estado institucionais que se seguiram após a independência.

A irritação do povo angolano é notável, isso é a demonstração do povo não desejar continuar a ver o poder real incólume nas mãos de uma elite vergonhosamente decadente.

Esse quadro que se vivencia a quase cinco décadas, veio apenas acelerar a probabilidade de mudança repentina, e, se nada for feito para mudar o quadro prevalecente e trazer benefícios que melhorem as condições de vida do povo, em Angola tudo fica aberto sobre a possibilidade de golpe de estado militar.

A má governação, a incompetência e a degradação da situação social empurrou o povo para a bendita perda de confiança e desespero total, ao ponto de agarrar-se a fé e esperar das forças armadas a condição mínima de mudança.

Muito se duvidou, mas hoje o Reino do MPLA não goza de qualquer estima nem apoio por parte do povo. Agora não há como fugir ao rastilho de mudança que agita a África e seus povos malgovernados, fruto da incompetência e da insensibilidade insana do poder abusivo dos governantes.

Como aceitar que o executivo quer ver coladas as digitais da oposição, sito UNITA, na votação do (OGE) orçamento geral do estado, se a Assembleia Nacional, a casa que aprova os (OGEs) orçamentos geral do estado, não possui lastro legal para fiscalizar a forma como o governo utilizar o OGE!

Por outro lado, e a moda de guisa, refiro-me ao desejo profundo de liberdade dos povos de Angola, e ao normal acesso às suas riquezas, para daí realizar as suas aspirações mínimas, coincidindo também com o normal direito a saúde, educação, emprego, dentre outras necessidades como a liberdade de ir e vir, de manifestação e de expressão.

Todas essas restrições não deixam alternativa nenhuma para o povo se alegrar com as práticas nocivas do governo, senão usar-se da rebelião e ou de uma eventual implosão social não direcionada.

Já não há caminho de saída nem prioridade de política de estado para João Lourenço impor despoticamente um terceiro mandato pensando apenas em reafirmar um poder que não possui e jamais possuirá.

Na actual situação é complicada a situação atual do chefe do poder executivo e dos seus auxiliares, o desencanto é generalizado, o povo deseja olhar o presidente da república e do MPLA pelo retrovisor.

Afinal onde andam os gabinetes dos arautos artífices manipuladores do MPLA, que ainda não se deram conta que já é tarde, e pouco estará nas mãos desses pensadores que ajude a neutralizar o impacto do actual golpe de estado do Gabão! Não entenderam que o panorama político de Angola é idêntico ou pior que o do Gabão?

Será que o MPLA se está a esquivar em se colocar a salvo, ao desrespeitar a constituição e sobretudo, mantendo um programa de governo desrespeitando os ensejos das maiorias?  No seio do MPLA e da parte de João Lourenço haverá mesmo vontade política de combate férreo da corrupção?

O presidente do executivo e do MPLA já decidiu pensar ao menos com data certa para a realização das eleições autárquicas? A possibilidade de se realizar eleições autárquicas, ajudaria a arrefecer as tensões e distrairia de certo modo as atenções dos cidadãos, pondo o País a falar consigo mesmo e pacificar os espíritos.

É preciso pensar Angola, e não adianta esticar a corda. A saída passa pela realização de eleições justas, livres e transparentes, e em aceitar a pluralidade através da alternância do poder político, A antítese da corrupção, é o MPLA aceitar democrática e pacificamente a alternância do poder político.

O cenário do Gabão, não está muito longe do quadro gravoso que Angola vivencia desde 2020. É tempo de serenar os espíritos olhando par um novo horizonte, é tempo de juntos se criar um novo modelo de políticas sociais publicas inclusivas.

É curioso, mas o cidadão quer saber a razão que levou João Lourenço ao Congo Brazzaville? Essa viagem cheira a fingimento de um regime forte, e configura precipitação e medo?

Para todos efeitos, essa viagem pôde demonstrar a aflição tanto de Denis Sassou N’guesso como de João Lourenço. Enfim, esse gesto mostra um fulgurante abraço dos afogados.

Será que é preciso interromper a ordem jurídico-constitucional para se garantir uma boa governação, que viabilize uma Angola nobre no amanhã, onde todos sejam tratados como cidadãos de primeira classe? Nas estruturas da sociedade castrense nada faz prever jogar fora das 4 linhas da constituição.

Mas, nesta hora delicada, o regime precisa de promover maior abertura além de aprender rápido a ler os sinais dos tempos, frenar a apetência arrogante e pretensiosa de agredir o povo com as policiais e secretas criadas a imagem e semelhança do MPLA, só para massagear o ego presidencial, que possam acelerar o desencadeamento de outros indesejáveis acontecimentos.

Angola, ainda se está a tempo de evitar o pior relacionado com o atraso que representa os golpes de estado, para tal, é preciso que haja vontade política, pois, importa que todos joguem limpo, em especial o MPLA de João Lourenço, para se evitar potenciais arrelias desnecessárias, no interesse do povo.

Estamos juntos

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