MANIFESTANTES DETIDOS PELA POLÍCIA VÃO A JULGAMENTO SUMÁRIO
Um total de 87 cidadãos foram detidos, no sábado, pela Polícia Nacional, nas províncias de Luanda e Benguela, por, supostamente, estarem envolvidos nos crimes de arruaças e desobediência contra as forças da ordem.
A informação foi avançada, domingo, ao Jornal de Angola, pelo porta-voz do Comando Geral da Polícia Nacional, subcomissário Mateus Rodrigues, a propósito das manifestações realizadas por milhares de cidadãos em várias províncias do país.
Mateus Rodrigues explicou que, em Luanda, foram detidos 32 manifestantes, ao passo que em Benguela, foram 55, todos encarcerados e nas próximas horas vão ser encaminhados ao tribunal para julgamento sumário, por vários crimes, entre os quais os de arruaça e desobediência.
Os cidadãos, na maioria jovens, se manifestaram, sábado último, dia 17, contra o aumento do preço dos alimentos básicos, por agravar o custo de vida, a subida do preço da gasolina, assim como pela alteração da Lei que regula as actividades das Organizações Não Governamentais.
Em Luanda, segundo Mateus Rodrigues, os organizadores da manifestação não obedeceram aos pressupostos legais. “Enquanto se mostraram pacíficos, as forças policiais procuraram dialogar e orientar a manifestação. Como não tinham um itinerário, foi definido um percurso saindo do Cemitério de Santa Ana até ao Largo das Escolas”, disse, acrescentando que no meio do
percurso, os manifestantes começaram a violar o itinerário e proferir ofensas contra os agentes da ordem pública, situação que forçou o recurso à força moderada para repor a ordem e a tranquilidade.
Em relação a eventuais falhas para que houvesse confusões, detenções e efectivos feridos, assim como alguns cidadãos, Mateus Rodrigues respondeu que desde o anúncio da manifestação, nas redes sociais, existia já uma intenção hostil, propagando a violência antes mesmo da saída às ruas. “A ameaça a ordem e a tranquilidade pública é uma das situações que pode levar o direito à manifestação de ser interrompido”.
As manifestações, explicou, coincidiram com o aniversário da LIMA, movimento feminino do partido UNITA, que também saiu à rua para comemorar a data em algumas províncias e teve a protecção da Polícia Nacional. “As manifestações da sociedade civil em outras províncias, correram de forma pacífica e ordeira sem qualquer incidente”.
Os representantes da UNITA, informou Mateus Rodrigues, estiveram em todas as províncias onde houve manifestação. “Em Luanda, esteve presente na marcha o secretário-geral da Jura, Nelito Ekuikui, e o primeiro secretário da UNITA na província, Adriano Sapinala. São deputados à Assembleia Nacional e foram na manifestação, dando a essa um carácter político”, salientou.
A QUESTÃO DO TRAJECTO
Sobre a rota exacta em que as manifestações deviam seguir, partindo do Cemitério de Santa Ana, Mateus Rodrigues respondeu que em princípio, a manifestação não devia acontecer, porque os organizadores remeteram a carta ao Governo da Província e não terminaram o diálogo.
“O Governo da Província contactou os organizadores para esclarecer alguns aspectos em relação ao itinerário e estes alegaram que não iriam conversar. A carta era só para dar a conhecer que realizaram a manifestação. Entretanto, houve o entendimento com a Polícia que sairiam do Cemitério de Santa Ana até ao Largo das Escolas. O problema é que o percurso foi violado. Houve uma alteração da ordem e a queima de pneus, levando ao uso da força moderada para repor a ordem”, aclarou.
DANOS FÍSICOS E MATERIAIS
Durante a manifestação, a atitude dos arruaceiros feriu sete efectivos da Polícia, assim como provocou danos materiais a bens públicos e privados. “Os efectivos receberam o tratamento médico no hospital da Polícia”, sublinhou, adiantando que houve também feridos por parte da população, mas não sabe precisar o número.
O principal confronto, contou, ocorreu junto da Unidade de Reacção e Patrulhamento (URP), nas imediações do Hipermercado Jumbo, onde a corporação teve de recorrer a meios não letais para repor a ordem.
A Polícia Nacional apela aos cidadãos, no sentido de não aderirem a actos de violência e reitera o compromisso de continuar a trabalhar para manter a segurança, garantindo nos termos da lei, livre exercício de direitos, liberdades e garantias fundamentais.