ANGOLA NO 13.º LUGAR NO ÍNDICE DE MISÉRIA HANKE 2022
No caso do Zimbabué, foi a inflação que catapultou o país para a primeira posição, destronando a Venezuela que ficou em segundo e a Síria, que enfrenta uma guerra há mais de 12 anos. Já no caso de Angola, o desemprego é o factor com mais peso na “infelicidade” económica dos cidadãos.
Angola desceu cinco lugares e ocupa a 13ª posição no Índice Anual de Miséria Hanke 2022, uma lista de 157 países, liderada pelo Zimbabué. Angola é o terceiro país mais infeliz economicamente em África, seguido do Sudão, o quinto no mundo e o segundo em África. No ranking global, o Zimbabué bateu a Venezuela e a Síria e lidera a lista elaborada por Steve Hanke, professor de Economia Aplicada na Universidade Johns Hopkins, EUA.
O Hanke”s 2022 Misery Index, divulgado no dia 18 de Maio, mede os países com base nas taxas de desemprego, inflação e dos juros dos créditos bancários, um ranking em que quanto maior a pontuação, maior é o grau de “infelicidade” económica. No caso do Zimbabué (com 414.7 pontos), o factor que mais pesa é a inflação, tendo destronado a Venezuela (330.8), que surge este ano em segundo lugar (ver infografia). Já no caso de Angola (93.518), o desemprego é o factor com mais peso na “infelicidade” económica dos cidadãos e que catapulta o País para um dos lugares cimeiros na lista onde os primeiros são os que estão pior.
“A condição humana situa-se num vasto espectro entre o “miserável” e o “feliz”. Na esfera económica, a infelicidade tende a resultar da inflação elevada, dos elevados custos dos empréstimos e do desemprego. A forma mais segura de mitigar essa miséria é através do crescimento económico. A comparação das métricas dos países pode dizer-nos muito sobre em que parte do mundo as pessoas estão tristes ou felizes”, explica Steve Hanke, no artigo que acompanha a divulgação do Índice Anual de Miséria Hanke (HAMI) de 2022.
Em relação ao índice de 2021, liderado por Cuba, o Zimbabué piora e galga cinco lugares, passando da quinta para primeira posição. Já no caso de Angola, regista-se uma melhoria. O país desce cinco lugares, da 8ª posição para 13ª.
A melhoria de posição, seja em que circunstância for, “é uma boa notícia” para Alves da Rocha, director do Centro de Estudos e Investigação Científica (CEIC) da Universidade Católica de Angola. Mas “não deixa de ser deprimente a posição de Angola, de resto em linha com outros rankings internacionais”,.
Elementos que tornam as pessoas mais infelizes
A lista de Hanke é calculada a partir da taxa de desemprego (multiplicada por dois), inflação e as taxas de crédito bancário, menos a variação percentual anual do PIB real per capita, explica o autor do índice, indicando que “valores mais elevados nos três primeiros elementos são maus e tornam as pessoas mais miseráveis”.
O índice de miséria teve origem em Arthur Okun, presidente do Conselho de Consultores Económicos durante a administração do Presidente Johnson, para calcular a miséria nos EUA, e foi sofrendo alterações ao longo dos tempos, na fórmula de cálculo assim como no raio de cobertura, que foi alargado a 157 países. Hanke alterou a versão de Roberto Barro, da Universidade de Harvard, substituindo o hiato do produto pela taxa de crescimento do PIB real per capita e o rendimento das obrigações do Tesouro a 30 anos pelas taxas de juro dos empréstimos. “Afinal, taxas de juro mais elevadas significam crédito mais caro e mais miséria para os mutuários”, explica o economista.
Este ano, Hanke fez uma nova alteração e duplicou a componente da taxa de desemprego, seguindo uma recomendação do colunista do Wall Street Journal Josh Zumbrun, que defendeu que o “desemprego deveria ter um peso maior” dada as suas implicações na capacidade das pessoas de obterem rendimentos.
Para Alves da Rocha, as organizações internacionais “estão cheias deste tipo de índices, uns levados mais a sério pelos países, outros, nem por isso”. A credibilidade dos índices depende da metodologia e do seu âmbito de cálculo.
“Do que eu conheço sobre este indicador as variáveis usuais são a taxa de inflação, a taxa de pobreza, a taxa de desemprego, o índice de Gini e creio a taxa de crescimento do PIB. A posição de cada país no respectivo ranking é determinada pelos valores dos indicadores anteriores, combinados com a sua posição relativa, isto é, sujeitos à atribuição de uma ponderação, podendo ser aqui que se encontre justificação para que a Guiné-Bissau e o Níger (manifestamente inferiores a Angola nos quesitos do crescimento económico e da sua transformação em desenvolvimento) se encontrem melhor posicionados”, comenta o director do CEIC.
África do Sul surge em 16.º lugar, Ruanda em 20.º, Nigéria em 42.º à frente do Egipto que surge em 52.º lugar, Moçambique em 66.º e Cabo Verde em 94.º.
(Leia o artigo integral na edição 726 do Expansão, desta sexta-feira, dia 26 de Maio de 2023, em papel ou versão digital com pagamento em kwanzas.