NO ÚLTIMO ADEUS: PROFISSIONALISMO DE ANTÓNIO MUACHILELA DESTACADO POR COLEGAS
Familiares, amigos e colegas renderam terça-feira a última homenagem ao jornalista António Muachilela, no cemitério da Sant’Ana, em Luanda.
Num ambiente de tristeza e consternação, António Muachilela, o homem do slogan “um abraço do tamanho do mundo”, foi recordado como uma pessoa de carácter forte, alegre e, acima de tudo, um ser humano que sabia lidar bem com todos.
As homenagens começaram a ser feitas, sábado, em mensagens de condolências tornadas públicas por órgãos de comunicação social, logo após a sua morte, no Complexo Hospitalar de Doenças Cárdiopulmonares Cardeal Dom Alexandre do Nascimento.
Antes do funeral, realizou-se, segunda-feira, um velório no pavilhão anexo da Cidadela Desportiva, onde foram recordados os feitos do radialista António Muachilela.
A irmã mais velha de António Muachilela, aos prantos, disse que, depois de terem ficado separados durante 30 anos, por causa da guerra civil, após o reencontro esperava mais anos de convivência.
“Tivemos um momento emocionante no primeiro encontro e olhar para ele dentro do caixão, sem saber a doença que teve, deixa-me inconsolável. Agora fiquei sozinha, porque os outros já faleceram”, lamentou.
A jornalista e colega de bancada Vânia Varela teve a responsabilidade de ler a biografia e o elogio fúnebre em nome do Conselho de Administração da Rádio Nacional de Angola (RNA).
Vánia Varela, que não conseguiu conter as lágrimas, disse que António Muachilela era distinguido como uma pessoa de vivacidade e alegria sem igual, sempre bem-humorado. “Vai ser sempre lembrado como um grande profissional, que inspirou a nova geração de locutores e apresentadores da Rádio Nacional de Angola e não só”.
No elogio fúnebre da Comissão da Carteira e Ética, Honorato Silva destacou o estilo peculiar, a simplicidade, simpatia, inteligência e a humildade do malogrado.
Honorato Silva sublinhou que António Muachilela soube honrar a Carteira Profissional nº°220, atribuída em reconhecimento às várias décadas de dedicação, como um abnegado combatente do jornalismo angolano.
“No final da audição, em 25 de Junho de 2022, que acabou por ditar a tua saída dos microfones, consolaste os teus colegas que estavam tristes por ver o jornalismo perder um excelente quadro para o futebol, que com o seu talento prendia os ouvintes”, sublinhou.
Segundo a presidente da Comissão da Carteira e Ética, Luísa Rogério, presente no funeral, todos os profissionais devem seguir o exemplo de António Muachilela, por ser dos poucos que devolveu a Carteira, depois de optar em continuar a trabalhar com a Federação Angolana de Futebol (FAF).
Realçou que o malogrado revolucionou a rádio, fazendo de forma diferente. “Por este marco, penso que devia haver uma cabine com o seu nome e espero que as homenagens não terminem por aqui. Ele influenciou várias gerações de jornalistas, era metódico e preparava bem o seu trabalho”.
Para o vice-presidente da Federação Angolana de Futebol, José Carlos, “é sempre um momento difícil quando há uma perda irreparável. António Muachilela era um trabalhador alegre, sempre com piadas para lançar e punha as pessoas a rir. Vamos sentir muito a sua falta”.
O jornalista da Rádio Luanda Paulo Miranda disse que tem boas lembranças do malogrado e enalteceu o seu sorriso fácil, a sua boa disposição e a competência profissional. “Será desta forma que vou continuar a lembrá-lo”.
A Associação de Imprensa Desportiva de Angola (AIDA) trata o malogrado como um mestre, que está nas páginas douradas do jornalismo angolano.
LABORINHO E MUANDUMBA ELOGIAM QUALIDADES DE “MUACHI”
O ministro do Interior, Eugénio Laborinho, disse que foi com profunda dor e tristeza que a direcção do ministério tomou conhecimento do passamento físico de António Muachilela.
“Muachy”, lembrou, como era carinhosamente tratado pelos seus próximos, possuía um currículo invejável no mundo do jornalismo, tendo exercido, de forma distinta, várias funções que ficam registadas na memória de todos, devido à sua voz inconfundível.
O ministro realçou a destreza, a forma peculiar e divertida como tratava as matérias noticiosas.
Eugénio Laborinho considera que a partida prematura de António Muachilela empobreceu a RNA e o jornalismo angolano e defende que os seus ensinamentos sirvam de exemplo para as futuras gerações que irão abraçar a carreira jornalística.
Por outro lado, o deputado e antigo ministro dos Desportos, Gonçalves Muandumba, disse que António Muachilela foi um conquistador nato, com a sua transbordante alegria, boa disposição, energia, de palavras fáceis e contador de histórias.
“Conheci o malogrado nos anos 80 e foi amor à primeira vista. Nunca mais nos largamos, trabalhamos juntos no Ministério da Juventude e Desportos, onde pude apreciar as suas excelentes qualidades profissionais. Ele foi um homem singular de muitos talentos e recursos”, disse Gonçalves Muandumba.
O deputado explicou o significado do nome do malogrado, Muachilela, que em tchokwe é traduzido por “muachiculela”, retratando uma pessoa de fácil trato, amistosa e de outros atributos.
Gonçalves Muamdumba pediu que se continue a simbolizar o seu legado com “um abraço do tamanho do mundo”, como sempre referia.
BIOGRAFIA
António Muachilela nasceu no município de Nhareia, província do Bié, a 12 de Setembro de 1962. Ingressou nos quadros da Rádio com 16 anos, na Emissora Provincial do Bié.
No seu longo percurso jornalístico, “Muachy”, como era carinhosamente tratado, passou pela extinta Redacção Desportiva da Rádio Nacional de Angola, onde cobriu o Africano de Basquetebol de 1987, em Maputo, Moçambique.
Durante décadas, foi editor do serviço de notícias e uma das principais vozes dos noticiários da RNA, tendo deixado marca sobretudo no “Jornal de Sábado”, onde celebrou a frase “Um abraço do tamanho do mundo”.
Formado em Relações Internacionais na antiga União Soviética, António Muachilela esteve sempre ligado à rádio, tendo exercido, de 2000 a 2015, o cargo de director do Centro de Documentação e Informação do Ministério da Juventude e Desportos.
Entre 2015 e 2017, exerceu a função de director adjunto do Gabinete do Ministro da Juventude e Desportos.
Nos últimos meses, António Muachilela suspendeu o seu contrato de colaboração com a RNA, por incompatibilidade, pois desempenhava as funções de director de Comunicação e Marketing da Federação Angolana de Futebol (FAF).
António Muachilela deu voz aos principais espaços noticiosos da RNA, tendo criado o slogan “Um abraço do tamanho do mundo”, que usava no final das suas apresentações.
Em consequência da sua morte, várias mensagens de condolências foram tornadas públicas, nos últimos dias, com destaque às do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, da Juventude e Desportos, Governo Provincial de Luanda, Sindicato dos Jornalistas Angolanos (SJA), Comando Geral da Polícia Nacional, Inspecção Geral da Administração do Estado e da Associação dos Naturais e Amigos do Bié.
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