ANTIGAMENTE ERA PORRADA, HOJE CADEIA POR QUERER SER CIDADÃO – JORGE EURICO

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Pedro Frazão (deputado à Assembleia da República Portuguesa pelo CHEGA) fez, a partir da capital do antigo Império Lusitano, uma pergunta-provocação que deixaria corado os chefes de Estado e de Governos dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), caso tivessem o mínimo de sensibilidade e vergonha (predicados de gente decente!).

Os estilhaços da pergunta-provocação do vice-presidente do CHEGA, Pedro Frazão, atingem também os povos dos Estados-membros dos PALOP e convoca a reflexão de todos nós.

A indagação sugere que, transcorridos cinco décadas de alegada independência de Angola, o que houve foi apenas a troca de subjugadores. A diferença é que o subjugador actual também é angolano, com a diferença de que é mais insensível, truculento, mais atroz e “não dá para ninguém”.

A pergunta de Pedro Frazão faz qualquer cidadão dos PALOP, particularmente os angolanos, engolir em seco e, acabrunhadamente, embrulhar a bandeira da utópica emancipação política, ocorrida há quase meio século, colocá-la debaixo do sovaco e ficar caladinho.

Mas qual foi a pergunta de Pedro Frazão? Ei-la: “Alguém que me diga uma Província do Ultramar que hoje dê melhores condições ao povo, depois de meio século de independência?”

Atenha-mo-nos a Angola. O País já não é, formalmente, Província de Angola. Mas os angolanos continuam, grosso modo, a depender, excessivamente, de Portugal em tudo e mais alguma.  Uma dependência quase patológica.

Há quem diga (a brincar, mas a revelar verdadeiramente o que lhe vai na alma) que Lisboa é a capital de Angola.

Lá saberão porque o dizem. Também julgo saber da razão. Pois, é em Lisboa onde os governantes tem os seus lares. É lá onde fazem as suas consultas médicas. É lá onde fazem os seus investimentos. É lá onde os seus filhos são formados. É lá onde vivem as suas consortes e quando lá não vivem lá vão tratar das unhas e do cabelo.

Luanda para os governantes angolanos (e também para todos aqueles que podem, em virtude de se terem abotoado com dinheiros públicos ao

longo de décadas) é apenas um dormitório e uma fonte de rendimento.

Ganhar dinheiro em Luanda, gasta-lo à larga e à angolana em Lisboa é o lema.

Continuando. O deputado Pedro Frazão, na minha opinião, tem razão que CHEGA. É que no tempo em que Angola era Província Ultramarina, os angolanos tinham peixe podre, fubá podre e porrada se refilassem.

Hoje sequer têm peixe podre, fuba podre. Só tem porrada e, limite, cadeia se refilarem ou se manifestarem em razão da defesa dos seus Direitos Fundamentais.

Os angolanos sentem no corpo e na alma a repressão dos “novos colonos” que usam e abusam dos meios do Estado para tal.

Hoje – permitam-me a inversão da ordem das coisas – milhões de angolanos tem porrada se reivindicarem os seus direitos, seguido de cadeia e, em casa, um prato cheio de nada.

Em resumo: hoje temos porrada, cadeia e fome. Muita fome. E não é relativa.

Pois não!?

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