DOSSIER 27-5-1977: OS ASSASSINOS E OS ASSASSINADOS

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O QUE NINGUÉM GOSTA DE ESCREVER
Nós os que sobrevivemos precisamos ter muito cuidado para não cairmos
no erro em acreditarmos.
Que essa nossa condição de sobreviventes nos garante o direito de
falsearmos a história daquele acontecimento, pintando todos os que
foram mortos.

Como se na verdade se tratam de uns santinhos que nunca tivessem feito
nada de mau contra Angola, nem contra os seus próprios irmão angolanos
brancos e negros.
Olha que não é bem assim, já que a verdade deve ser a única coisa que
deve e tem que prevalecer então precisamos falar dos dois lados com a
mesma intensidade
Dos assassinos e dos assassinados sob o risco de não estarmos a ser
justos até porque os assassinos são tão angolanos como os
assassinados.
Condeno sim, e vou condenar sempre o que aconteceu e jamais algum
assassino terá o meu perdão enquanto não me pedir e não notar sinais
visíveis de arrependimento.
Mas ora bem, tal não pode nem deve ser motivo que me obriga a fechar
um olho e abrir só o outro porque só me interessa ver um lado de uma
mesma moeda?

Embora não haja nenhum motivo seja qual for, para que se tire a vida
a ninguém.
Nós estamos perante uma realidade em que houve sim um genocídio que
precisamos encarar de frente de peito aberto e falar sobre o assunto.
Mas sem nunca deixar de olhar dos dois lados de uma mesma moeda nesse caso, pois só houve assassinados porque houve assassinos, essa é a realidade.
Dos nossos mortos falamos sempre com muito fervor e lágrimas no rosto, não tenho nada contra.
Mas pouco nos interessarmos que muitos dos nossos mortos também nem
sempre foram pera doce isto é o que me parece não estarmos a ser
justos.
Eu na outra crónica vou trocar alguns aspectos em miúdos para
facilitar a compreensão e evitar más interpretações como se eu
estivesse aqui a defender os assassinos, o que não é bem isso.
Importa dizer, que eu conheci pessoalmente muitos jovens que foram
assassinados, chorei suas mortes, muitos conhecidos desde a infância.
Mas estaria a mentir se dissesse que eles todos enquanto operativos da DISA, ao serviço deste MPLA que tivessem sido uns santinhos sem pecado.

O ser humano por natureza tem tendência de terciarização da culpa para
evitar se colocar diante de seus próprios erros e crimes cometidos
também.
Por exemplo, leio às vezes certos jornalistas que do jeito que
escrevem e colocam o dedo nas feridas alheias.
O fazem como se eles tivessem sido sempre uns santos mesmo quando os
únicos milagres que se conhecem deles também são indecorosos.
A maka é que a maioria dos angolanos são jovens e muitos nem sabem do
passado não distante de tanta gente que aplaude.
Por isso, se assustam facilmente e entram em curto-circuito sempre
que eu vasculho e lhes mostro o que está escondido debaixo do tapete.
Continuarei
Fórum Livre Opinião & Justiça
Fernando Vumby

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