MORTOS PODEM FICAR EM CASA: MORGUES DO BENGO SEM ESPAÇO PARA NOVOS CADÁVERES
Na província angolana do Bengo, famílias reclamam da falta de espaço nas morgues locais. Há corpos a aguardar por funeral desde janeiro, segundo fonte hospitalar. Governo prometeu construir morgue com maior capacidade.
A ausência de manutenção no recinto e a não reclamação de corpos recolhidos na via pública em consequência de acidentes rodoviários são apresentadas como as duas principais razões para a falta de espaço nas morgues do Bengo.
“Desde as três horas que estamos a girar com o corpo, vamos no provincial, fomos na Açucareira e no Abel dos Santos dizem que não têm espaço. Isso é crítico, está muito mal. Queremos uma ajuda, não temos como fazer”, lamentam familiares ouvidos pela DW África.
No Hospital Provincial do Bengo, por exemplo, 12 corpos aguardam pelo funeral desde janeiro. A informação foi avançada por uma fonte que trabalha na morgue, mas que preferiu não se identificar por receio de represálias.
O QUE DIZ O GOVERNO
Apesar desta realidade, o director do Gabinete Provincial da Saúde do Bengo, Domingos Goulão, avança que as autoridades têm garantido o cuidado dos cadáveres.
“Neste momento não temos cadáveres que ficam fora, temos feito um esforço. Claro, pode haver alguma sobrelotação, no entanto, as famílias fiquem descansadas. Tudo faremos para que a situação se resolva dentro do tempo”, garantiu Goulão.
Ao nível do município sede da província, existem menos de 50 lugares para conservação de corpos. Domingos Goulão promete a construção de uma nova morgue.
“A província vai no futuro aumentar o número de gavetas e isso passa, necessariamente, por construir para aumentar esta capacidade, isso está em forja e a dada altura veremos o problema resolvido. Temos ajuda de outros municípios e também de Luanda”, disse o director do Gabinete Provincial.
ESCASSEZ NÃO JUSTIFICADA
O analista e docente universitário Amílcar de Armando afirma que o governo deve repensar as políticas ligadas à saúde preventiva. “Se não há como garantir a saúde destas pessoas, que pelo menos quando morrem tenham um local condigno para ficar acomodado, portanto, pode acarretar outro tipo de saúde pública”, apela.
Já o professor e analista Ngongo Mbaxi diz não compreender como é que o principal hospital da província não tem capacidade para dar resposta à procura.
“Não se pode admitir que o Hospital Provincial Barra Dande tenha capacidade para mais de 50 corpos e a sua morgue não tem capacidade para mais de 20 corpos. Não é possível. Essa desculpa de que há muitos corpos abandonados não colhe, até porque existem funerais de Estado”, replicou Mbaxi.