NO MÊS DA MULHER: ANGOLANA FUNDA NOVO PARTIDO EM PORTUGAL
Ossanda Liber, de origem angolana, é a primeira mulher negra a liderar um partido de direita em Portugal. A imigrante faz história ao dar a cara pela “Nova Direita”. Liber explicou à DW África o que pretende o partido.
Ossanda Liber recolheu mais de 7 500 assinaturas antes de apresentar o projecto para um novo partido político ao Tribunal Constitucional, no passado Dia Internacional da Mulher (8/3).
A dirigente da Nova Direita defende que Portugal deve replicar com África o modelo das relações estabelecidas no âmbito da União Europeia nos domínios do comércio e de políticas comuns de imigração, mas também nas áreas da saúde, defesa e segurança. Este último assunto, diz, é uma preocupação maior: “que inclui também a questão da segurança e controlo, por exemplo, do terrorismo, que é um tema no qual Portugal não gosta de pensar. Esta é uma questão que penso que Portugal e os países de África podiam perfeitamente cooperar”.
A proposta da ex-vice-presidente do partido Aliança considera importante o incremento das relações comerciais entre Portugal e África. “É preciso pensar numa estratégia comercial para que haja de facto um intercâmbio comercial
Portugal devia replicar com África o modelo das relações estabelecidas no âmbito da União Europeia nos domínios do comércio e de políticas comuns de imigração, “mas também nas áreas da saúde, defesa e segurança”, afirma, explicando que há empresários portugueses com mais dificuldades em exportar para África do que para China, sem mencionar os países europeus. “Isso não é algo que seja aceitável considerando as nossas potenciais relações”.
Ossanda Liber questiona o desempenho da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que dispõe de um mercado de mais de 300 milhões de habitantes. Na sua perspectiva, a CPLP devia ser “uma espécie de Commonwealth” lusófona, um projecto mais ambicioso e dinâmico com orçamento próprio, cujo plano estaria focado na igualdade de interesses e oportunidades.
“A ideia aqui não é que Portugal tenha o monopólio da direcção de um plano como este”, diz salientando que há mais que une os países da CPLP do que a língua. “300 e tal milhões de habitantes ainda é um grande mercado”, diz, pelo que vale a pena intensificar a cooperação comercial e cultural entre estes países.
PORQUE É QUE OS JOVENS QUEREM TANTO DEIXAR CABO VERDE?
A fundadora da Nova Direita quer ver concretizados os objectivos que nortearam a criação da CPLP. A livre circulação de pessoas e de bens no espaço lusófono é já um passo em frente, admite. Mas o acordo de mobilidade deve ser concretizado, exige. “Todos os anos anunciam-se novas medidas que facilitam precisamente essa ligação entre os países e nada acontece”, critica.
No entanto, adverte que os países africanos devem avaliar se estão preparados para suportar o fluxo da livre circulação.
Liber aplaude as novas medidas do Governo português de facilitação de vistos e legalização dos cidadãos da CPLP, como uma das medidas em resposta ao défice demográfico em Portugal. “Não há interesse nenhum para ninguém, nem para Portugal nem para os imigrantes, que as pessoas continuem no limbo, nesta situação de ilegalidade”.
IMIGRAÇÃO SIM, MAS…
Adiantando que Portugal precisa claramente dos imigrantes para colmatar um défice demográfico com impacto negativo no mercado de trabalho, defende, no entanto, que deve haver uma política de imigração bem definida. “Temos que perceber que pessoas é que nos convêm”.
A liderança do partido fala da necessidade de renovação da classe política, quer combater o ceticismo dos portugueses e motivar mais mulheres para a vida política, pretendendo com isso contrariar “a falta de identidade e uma certa descaraterização da actual direita em Portugal”.
A Nova Direita nasce com uma agenda que prioriza as eleições europeias de 2024, “muito importante(s), porque consideramos que muitas das reformas que pretendemos implementar em Portugal precisam de ser também feitas ao nível europeu”. O foco está também nas autárquicas de 2025. Em 2021Ossanda Liber candidata à presidência do município de Lisboa pelo movimento “Somos Todos Lisboa”. O partido propõe-se ainda a trabalhar para a fortificação das suas bases tendo em vista nas eleições legislativas e presidenciais de 2026. “Temos três anos de desafios eleitorais”, sublinha Ossanda Liber em entrevista exclusiva à DW África.