DESAFIOS ANTIGOS: RENAMO COM NOVA SECRETÁRIA-GERAL
Clementina Bomba é a nova secretária-geral da Renamo, indicada pelo Conselho Nacional do partido, na reunião realizada na segunda-feira, 12, na Beira.
Entretanto, um grupo liderado por um membro sénior daquela formação política exigia a realização de um congresso extraordinário para escolher um novo Presidente porque o actual, Ossufo Momade, “já não tem legitimidade a nível nacional”.
Para analistas políticos, esta situação resulta do facto de a Renamo, desde a morte do seu líder histórico, Afonso Dhlakama, em 2018, ter sempre mostrado grandes fissuras internas, que têm sido prejudiciais para o partido.
A reunião visava apresentar Bomba, nomeada por Ossufo Momade, e debruçar-se sobre o próximo ciclo eleitoral em Moçambique, que começa em 2023, com as eleições municipais.
O grupo antagonista de Ossufo Momade, liderado por Sandura Ambrósio, membro suplente do Conselho Nacional da Renamo, diz que não sabe como é que o partido vai participar nas próximas eleições porque “a Renamo não tem rumo, por isso precisa de se reestruturar”.
Ambrósio referiu que “a Renamo já não é Partido da oposição porque não tem posição, o actual presidente já tem grande legitimidade a nível nacional. o presidente Afonso Dhlakama não deixou a Renamo dividida.
O analista político Tomás Vieira Mário diz que isto não surpreende porque a Renamo, desde a morte de Afonso Dhlakama, ainda não se reencontrou sem essa figura carismática daquele partido.
“Há uma ala na Renamo, a ala ndau, do centro de Moçambique, que não se conforma com a liderança de Ossufo Momade, que é macua da Ilha de Moçambique, em Nampula, é uma cisão que não é nova e que agora com a aproximação de períodos eleitorais é capaz até de se exacerbar para outros fins”, realça aquele analista.
Ele recorda que logo a seguir à morte de Dhlakama, houve a cisão da qual nasceu a chamada Junta Militar da Renamo, que contestava, exactamente, a liderança de Ossufo Momade, e aparentemente, esta questão não ficou resolvida.
Na perspectiva de Tomás Vieira Mário, o reencontro da Renamo passa por uma série de coisas, provavelmente uma engenharia interna de distribuição de poderes e representatividade nos órgãos centrais do partido para acomodar interesses e regiões.
Uma engenharia interna que na opinião daquele analista pode não ser facilitada no ambiente presente, “ou então podemos vir a encontrar um outro formato de Junta da Renamo que poderá não ser militar, mas uma outra facção, como já existiu a Renamo democrática”.
Tomás Vieira Mário considera que já foi descartada como sendo uma estratégia do Partido no poder em Moçambique, Frelimo, para enfraquecer a Renamo em véspera de mais um período eleitoral.
Ele assinala ainda que “há muitas hipóteses abertas, e uma delas seria um compromisso interno da partilha do poder respeitando as diferenças étnicas, regionais e a origem histórica da Renamo, que está associada ao grupo ndau/sena e não ao grupo macua, que parece ser agora o grupo mais proeminente no partido”.
O também analista político Laurindos Macuácua diz, por seu turno, que Ossufo Momade não está a conseguir aproveitar o facto de a Frelimo estar a atravessar o seu pior momento, em termos de aceitação popular, para capitalizar a Renamo.
Para Macuácua, existe muito trabalho a ser feito por Ossufo Momade, realçando que “isto sucede numa altura em que o grande adversário da Renamo, a Frelimo, tem dado motivos para que a Renamo brilhe, mas ela não tem sabido aproveitar-se dessas chances todas”.
Ele ainda anota que Ossumo Momade “tem muitas fragilidades, uma das quais se traduz no facto de a Renamo pretender coligar-se com partidos fragilizados para participar nos próximos pleitos eleitorais, isto significa que a Renamo, sozinha, não tem capacidade de enfrentar a Frelimo”.
“É curioso que as guerras na Renamo começam sempre em véspera de eleições, pensemos nós que se realize esse congresso extraordinário e seja eleito um novo presidente, mas quando é que o novo líder vai trabalhar para ser conhecido pelo eleitorado, uma vez que falta pouco tempo para a realização das eleições?”, interroga-se.
Para o director do Centro de Integridade Pública (CIP), o grande problema da Renamo é Ossufo Momade, “que não apresenta qualquer tipo de proposta para a solução dos problemas deste país; quando se precisa da Renamo e de Ossufo Momade para discutir questões importantes do país, ele não aparece”.
No final do encontro do Conselho Nacional da Renamo, Ossufo Momade apelou a uma maior coesão do Partido, para ganhar as próximas eleições.