MINISTRO LABORINHO DIZ DESCONHECER REPRESSÃO DA POLÍCIA EM MARCHA DE ALUNOS
Luanda – O ministro angolano do Interior diz desconhecer a alegada acção violenta da Polícia Nacional contra crianças que exigiam carteiras para a Escola 5018, no município de Viana em Luanda.
O ministro angolano do Interior, Eugénio Laborinho, diz desconhecer a alegada acção violenta da Polícia Nacional contra crianças que protestaram contra a falta de carteiras na Escola 5018, no município de Viana em Luanda.
“Não corresponde à verdade. Não estive cá [no país], cheguei ontem à noite e ainda não me sentei para determinar quais foram as causas”, disse o ministro em declarações à imprensa neste sábado (15.05), à margem da reunião solene de abertura do novo ano Parlamentar na Assembleia Nacional.
Os cerca de 300 alunos, com idades entre 8 e 15 anos, foram dispersados pela polícia, ouvindo-se disparos em vídeos postos a circular nas redes sociais.
O professor que liderou a marcha dos alunos ficou detido durante dois dias, mas está em liberdade desde sexta-feira (14.10).
ATITUDE “IRRESPONSÁVEL”
Na noite de sexta-feira, por intermédio da sua página no Facebook, o governador de Luanda, Manuel Homem, classificou o professor de irresponsável e acusou as crianças de destruírem as carteiras. O governante apagou a publicação após várias críticas dos internautas.
“A atitude do aludido professor é, a todos os níveis, reprovável, na medida em que retira os alunos da sala para colocá-los na rua para se manifestarem contra a falta de carteiras. Como podem ver pelas fotos, os próprios alunos são responsáveis pelo que hoje tanto reclamam”, escreveu Manuel Homem na mesma publicação, entretanto apagada.
A Administração Municipal de Viana também repudiou o protesto contra a falta de carteiras, acusando o professor de instrumentalizar as crianças, noticiou a agência Lusa.
Para a administração municipal o professor demonstrou uma “atitude comprometedora, irresponsável e que colocou em risco a integridade física dos pequenos”, segundo o administrador municipal Walter Amorim, que repudiou “veementemente tal atitude e todas as formas de instrumentalização de toda e qualquer criança, com objectivo de tirar algum proveito da inocência destes petizes”.
A administração municipal refere ainda, num comunicado, que “a situação de falta de carteiras nas escolas tem merecido toda a atenção das autoridades locais” e diz que entre junho e a data actual, foram distribuídas mais de 3.000 carteiras, das 20.000 que o município precisa.
“TENHO DE ACORDAR ÀS 4H DA MANHÔ
Entrevistados pela TV Raiar, algumas crianças revelaram que têm de acordar de madrugada para conseguirem sentar numa das 20 carteiras de uma turma de 100 alunos na Escola 5018.
Francisco Kaliela explicou o transtorno que enfrenta na escola.
“Moro no bairro da Madeira. Tenho de acordar às 4h da manhã porque às 6h a sala já está cheia. Às vezes os colegas de outras turmas levam as carteiras porque lá só se senta quem tiver força. Só queremos que nos deem carteiras. Foi o que fizemos. Fomos apenas pedir ao Ministério que nos desse carteiras”.
Também Isabel, de 13 anos, que sonha ser enfermeira, diz que o problema abrange todas as turmas da escola.
“Quando chegamos tarde, somos obrigados a sentar no chão. Às vezes ligo o alarme para chegar às 5h na escola. Mesmo chegando a essa hora, já encontro as carteiras ocupadas. Às vezes sentamos quatro pessoas numa carteira”, lamenta.
O protesto não visava somente exigir carteiras nas turmas da escola de Viana. Os alunos também apelaram ao acesso a transportes públicos.
Durante o discurso sobre o Estado da Nação, este sábado (15.10), o Presidente da República, João Lourenço, prometeu melhorar o sector da educação no país.
Fonte: DW