CLIMA DE TENSÃO EM ANGOLA: POLÍCIA IMPEDE AGLOMERAÇÕES EM LUANDA E DETÉM JOVENS

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No município do Cazenga, em Luanda, onde deveria realizar-se uma conferência de imprensa de jovens que contestam resultados eleitorais, a Polícia ocupou o espaço e impediu aglomerações e até a presença de jornalistas.

Um dispositivo policial de cerca de duas dezenas de elementos concentrou-se esta segunda-feira junto do local onde estava agendada uma conferência de imprensa de activistas para contestar os resultados eleitorais de 24 de agosto.

Membros do movimento Sociedade Civil Contestatária pretendiam apresentar a sua posição sobre “desenvolvimentos do processo eleitoral e a detenção de activistas”, na sequência das eleições gerais. Mas a polícia ocupou o espaço e impediu aglomerações e até a presença de jornalistas.

“O tom no contacto com os jornalistas foi agressivo e ameaçador. Dizem ter indicação para impedir qualquer manifestação”, relata o o enviado especial da DW a Luanda. “Obrigaram a comunicação social presente a sair do local”, acrescenta António Cascais.

Em entrevista à DW, Aléxia Gamito, representante da sociedade civil, descreve o ambiente que se vive em Angola, no dia em que a CNE “valida” os resultados finais do escrutínio.

Manifestantes detidos

Há informações de que foram detidos 36 jovens que pretendiam participar em manifestações. Vão a julgamento sumário esta segunda-feira.

A organização não-governamental angolana Friends of Angola (FoA) exigiu hoje a “libertação incondicional dos cidadãos e cidadãs detidos ilegalmente quando exerciam um direito constitucional de reunião e manifestação pacífica” logo após as eleições.

Numa carta aberta dirigida ao Presidente angolano, João Lourenço, a FOA diz ter recebido “com grande preocupação” notícias sobre as “mais recentes agressões e detenções de manifestantes registadas em Angola, nas províncias do Uíge, Benguela, Huíla, Huambo, Moxico e Zaire, horas depois do enceramento do voto no passado dia 24 de agosto de 2022”, de acordo com o texto, assinado pelo director executivo da FoA, Florindo Chivucute.

As “violações” da Constituição angolana e dos direitos humanos “por agentes do Estado”, alerta ainda a ONG, estão a ter como “efeito, obviamente propositado, a deterioração com recurso ao terror da estabilidade política e social que, como consequência, pode nalgum momento resultar numa indesejável turbulência generalizada”.

Clima de tensão em Angola

O ambiente em Luanda é tenso. A Comissão Nacional Eleitoral (CNE) de Angola aprovou a ata do resultado final das eleições de 24 de agosto, numa reunião que decorreu esta madrugada. Ainda hoje deverá ter lugar na sede da CNE uma conferência de imprensa.

Dos 11.153 votos reclamados, 7.925 foram considerados válidos. Destes, foram atribuídos 4.360 ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e 2.935 à União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), com os restantes a serem distribuídos pelos outros partidos.

Segundo dados divulgados anteriormente pela CNE, quando estavam escrutinados 97,03% dos votos das eleições realizadas na passada quarta-feira (24.08), o MPLA, no poder desde 1975, obtivera 3.162.801 votos, menos um milhão de boletins escrutinados do que em 2017, quando obteve 4.115.302 votos.

Já a UNITA registara uma grande subida, elegendo deputados em 17 das 18 províncias e obtendo uma vitória histórica em Luanda, a maior província do país, conseguindo até então 2.727.885 votos, enquanto em 2017 obtivera 1.800.860 boletins favoráveis.

A UNITA contestou na sexta-feira (26.08) uma possível vitória do MPLA, indicando que estava a desenvolver uma contagem de votos paralela, com base nas atas síntese provenientes das 18 províncias do país. O líder da UNITA, Adalberto Costa Júnior (ACJ), pediu uma comissão internacional para comparar as atas eleitorais na posse do partido com as da CNE.

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