EDUCAÇÃO SEM LIVROS NO ZAIRE: ENCARREGADOS COMPRAM MEIOS DE ENSINO

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A carência de livrarias na cidade de Mbanza Kongo, no Zaire, tem criado constrangimentos nos trabalhos de pesquisa da maioria dos estudantes locais, que para resolver a situação recorrem a alguns vendedores de rua, como constatou a reportagem do Jornal de Angola.

Numa ronda pelas ruas da cidade era comum ver leitores a comprarem títulos nos vendedores. Quando questionados do porquê da aquisição nestas condições, muitos, como Fernando Adriano, disseram que era devido à falta de livrarias.

A procura por livros tem sido maior quando o caso são os didácticos, em especial os ligados ao material de apoio ao ensino e aprendizado. Pela procura regular, alguns vendedores criaram pontos ambulantes de venda, onde o interessado pode, em caso de sorte encontrar um ou outro título. Os preços nestes espaços nem sempre vão de encontro ao bolso do cidadão, ou podem sofrer uma ligeira subida.

No centro da cidade de Mbanza Kongo, por exemplo, Elias Manuel João da Silva montou uma bancada, onde vende diversos livros, desde escolares a romances científicos. Neste negócio há mais de 11 anos, disse que é onde tira o sustento para a família. Entre os títulos mais solicitados, contou, estão os de Direito, Psicologia e Sociologia. “Cada livro tem o seu preço. Varia em função do grau de importância de cada. Por exemplo, os livros académicos, para o ensino superior, ou dos I e II ciclos de ensino, variam dos seis mil aos 30 mil kwanzas. Só o Atlas Básico de Anatomia custa actualmente 27 mil kwanzas”, explicou.

O comerciante adiantou ainda que a procura tem sido positiva, apesar dos compradores reclamarem dos preços. “A maioria acaba sempre por comprar, por não terem alternativa”, ex-plicou, além de acrescer que tem tido, também, muitas dificuldades na aquisição dos livros.

“Os estudantes da Escola Superior de Ciências Sociais, Artes e Humanidade (ESCISAH) e do Instituto Superior Politécnico Privada do Zaire são os que mais procuram livros, em especial quando têm algum trabalho académico por fazer. Os outros são leitores comuns havidos por boa leitura”, avançou.

O vendedor ambulante de livros acrescentou, ainda, que consegue vender, em média, sete títulos por dia. “A procura é muito alta, principalmente no início de cada ano lectivo, ou quando os alunos recebem pedidos dos professores para fazer algum trabalho académico”, disse.

Antes da crise económica mundial, revelou, conseguia adquirir livros a partir de Portugal, mas agora, devido à escassez de divisas, há uma redução acentuada. “Actualmente usou o mercado do Kikolo, em Luanda, como a fonte para a aquisição da maioria dos livros”.

 Bibliotecas de instituições de ensino são a saída

As bibliotecas das instituições de ensino superior na região, apesar de não disporem de quantidades suficientes de livros académicos, oferecem aos estudantes inscritos a possibilidade de fazerem, diariamente, pesquisas sobre os trabalhos académicos.

O chefe da biblioteca do Instituto Superior de Ciências Sociais, Artes e Humanidade (ESCISAH), Domingos António Almeida, revelou que para satisfazer as solicitações dos estudantes, a instituição dispõe de 2.000 livros diversos. “O número de livros existentes actualmente na instituição ainda é insuficiente. Pessoalmente, enquanto docente das cadeiras de Psicologia Diferencial e de Desenvolvimentos, gastas, anualmente, mais de 50 mil kwanzas, para comprar novos livros”, contou, acrescentando que tem um acervo bibliográfico pessoal, que procura actualizar constantemente.

Quanto a solicitação dos serviços bibliotecários pelos estudantes, considerou, bastante reduzido. “Os futuros licenciados devem cultivar mais o hábito de leitura, para aumentarem as capacidades intelectuais e adquirem novos conhecimento académico durante a formação”, aconselhou.

Quanto aos alunos de outras instituições, disse que, mensalmente, a biblioteca atende mais de 100 estudantes do I e II ciclos do ensino secundário, que realizam as pesquisas para os trabalhos do fim do curso no local.

  Lamento dos leitores

O estudante do curso de Gestão de Empresas, na Escola Superior de Ciências Sociais, Artes e Humanidade (ESCISAH), Fernando Adriano, de 34 anos, disse que a aquisição de livros académicos para a pesquisa tem sido um problema sério na província, não apenas pelos preços praticados, mas também devido à escassez de títulos.

“Esta situação tem obrigado muitos estudantes a se tornarem dependentes dos trabalhos de pesquisa disponíveis na Internet, limitando assim o processo de ensino e aprendizagem, bem como a qualidade da investigação, pois nem todos os estudantes têm poder financeiro para navegar regularmente, ou adquirir dos poucos livros existentes pelo preço elevado”, disse.

O funcionário público Garcia Neves, de 30 anos, disse, ao Jornal de Angola, que, como pai, tem tido dificuldades, para adquirir livros didácticos para os filhos em idade escolar, por causa da alta de preços praticada.

“É difícil comprar livros em Mbanza Kongo. Os preços são elevadíssimos para os bolsos da maioria dos funcionários públicos. Só um livro de Educação Visual Plástica custa entre dois à três mil kwanzas. O de Língua Portuguesa está a ser vendido a seis mil kwanzas. É muito alto, em especial para os agregados com mais de dois filhos”, lamentou.

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