ELEIÇÕES: RELIGIOSOS APELAM AOS POLÍTICOS PARA MANTEREM A TOLERÂNCIA
As igrejas cristãs em Angola promoveram, ontem, em Luanda, no Estádio 11 de Novembro, um “culto ecuménico de súplicas a Deus por eleições pacíficas”. Durante a homilia, os líderes religiosas apelaram aos partidos políticos concorrentes às Eleições Gerais de 24 deste mês, a manterem discursos de paz, tolerância e patriotismo.
O posicionamento das igrejas, em relação ao ambiente político eleitoral, foi manifestado durante o culto ecuménico, que decorreu sob o lema “Angolanos chamados à oração e a abraçar a paz, em tempos de eleições, orando pela Nação para uma vida tranquila”. Os religiosos pedem, igualmente, respeito pelos resultados eleitorais, aconselhando os políticos a encararem o momento eleitoral com espírito de humildade, amor ao próximo, por serem valores que permitem reconhecer a derrota e felicitar o vencedor.
O reverendo António Mussaqui pediu aos partidos políticos a usarem apenas os instrumentos jurídico-legais, na eventualidade de quaisquer reclamações, pautando sempre pelo espírito de diálogo e bom senso. “Angola não termina com as Eleições Gerais de 24 de Agosto, é apenas mais uma etapa da nossa história, e não o seu fim, e quem ganhar será felicitado, e quem perder deve se contentar e felicitar o vencedor”, aclarou o reverendo, acrescentando: “quem ganha, não ganha tudo, e quem perde, não perde tudo”.
Numa mensagem pastoral dirigida aos angolanos, os pastores reconheceram e elogiaram a postura cívica e ética de ordem e bom comportamento dos líderes dos partidos políticos e dos militantes, assim como de todo o povo, demonstrada durante a campanha eleitoral. “Enalteceram o trabalho da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) na criação de condições para a realização exitosa das quintas Eleições Gerais do país.
As entidades religiosas, dirigindo-se especificamente à CNE, apelaram para colocar o material de votação nas assembleias em tempo útil e a atender reclamações apresentadas.
A celebração litúrgica de ontem teve como objectivo levar o povo de Deus a orar, suplicar e interceder a Deus, pedindo a bênção pelo país para que estas Eleições Gerais decorram num clima de paz, harmonia, fraternidade, espírito de tolerância, civismo, ordem e de transparência.
Apelo aos cidadãos
Os líderes religiosos lembraram a todos os cidadãos eleitores que votar é um acto de cidadania e patriotismo. Por isso, pedem que participem no acto eleitoral com civismo, respeito e amor ao próximo, disciplina e ordem. “Não permanecer nas assembleias, após a votação, não aceitar mensagens de insinuações e incitamento a qualquer tipo de violência, vandalismo e perturbação da ordem e da paz, durante as eleições e o período da proclamação dos resultados finais”, apelaram.
Aos observadores nacionais e internacionais solicitaram que cumpram a missão e que exerçam o papel de fiscalizadores e conselheiros, “não se deixem intimidar por nada e por ninguém, denunciando, com coragem, qualquer irregularidade do acto, para manter a justiça e a transparência do processo eleitoral”, apelaram os líderes religiosos.
A Igreja, de acordo com o reverendo António Mussaqui, deu início a um programa de orações, súplicas e intercessão a favor de todo o processo eleitoral, cobrindo todas as etapas, desde o Registo Eleitoral Oficioso, a campanha, o dia da votação, a publicação dos resultados, bem como a tomada de posse do Presidente eleito, Vice-Presidente e os deputados à Assembleia Nacional.
Reafirmaram o compromisso de continuar a orar, suplicar e interceder pela Nação angolana, a favor de todo o processo eleitoral, até que o Governo eleito tome posse em paz e com a alegria de servir os interesses mais “nobres” e legítimos de todos os cidadãos.
Responsáveis dos partidos políticos reagiram aos apelos dos líderes religiosos, proferidos durante o culto ecuménico a favor das eleições. O primeiro secretário do MPLA em Luanda, Bento Bento, enalteceu a iniciativa das igrejas e valorizou o apelo dirigido aos partidos concorrentes para respeitarem os resultados das eleições. “Com isto, ganha a democracia e o país”, disse, apelando aos cidadãos para transformarem as eleições numa festa da democracia. “Aqueles que não ganharem, nunca perderão, porque o país é que saí a ganhar, pelo facto de todos sermos filhos da mesma Angola, que deve merecer o respeito por parte de todos, independentemente, de se ter ganho ou não as eleições”, enfatizou o político.
Bento Bento repudiou o comportamento de alguns cidadãos que demonstram sentimentos perturbadores, destacando, particularmente, a título de exemplo, o movimento “votou sentou”. Nesse sentido, reconheceu os apelos ao respeito pelos resultados como oportunos.
O primeiro secretário da UNITA, Nelito Ekuikui, elogiou as igrejas pela iniciativa. Realçou que não há razões de desconfiança, em relação à pro-
moção de um ambiente de tranquilidade durante as eleições. “Estamos em paz há mais de 20 anos, e, por isso, estou certo que os angolanos saberão preservar esta paz, duramente alcançada”, declarou. O político da UNITA referiu que a campanha decorreu num clima de paz, tranquilidade e respeito, ambiente que vai tornear a votação.
O candidato a Presidente da República pela CASA-CE, Manuel Fernandes, disse que a sua presença no culto reafirma o compromisso da coligação com a paz e com a estabilidade.
“Ao longo da campanha eleitoral, apregoamos a paz e a estabilidade, porque o que vai acontecer no dia 24 é apenas uma página dos vários capítulos da História de Angola”, disse, lembrando que o país vai continuar depois das eleições.
Manuel Fernandes apelou a todos os cidadãos a não permanecerem nas assembleias, depois de exercerem o direito de voto.
O antigo Presidente de Moçambique, Joaquim Chissano, que se encontra em Angola no âmbito da missão de observação eleitoral, agradeceu, em declarações à imprensa, sublinhou que encontrou no país um clima calmo, de paz e, por isso, deseja que esta tranquilidade seja conservada durante a votação e depois da divulgação dos resultados.
“Que os angolanos continuem unidos, que todos os partidos políticos e organizações continuem a colaborar para o sucesso das eleições”, realçou.
Joaquim Chissano, que se mostrou satisfeito pelo ambiente de tranquilidade no país, espera que as orações dêm forças e sabedoria aos líderes políticos e aos cidadãos para observarem um comportamento cívico durante o pleito.
Diálogo entre os candidatos do MPLA e da CASA-CE
O candidato do MPLA, João Lourenço, e Manuel Fernandes, da CASA-CE, foram os únicos líderes de forças políticas concorrentes às Eleições Gerais que se fizeram presentes no culto ecuménico a favor de e eleições pacíficas.
Antes de deixarem o Estádio 11 de Novembro, que acolheu o culto de acção de graças pelas eleições, os líderes do MPLA, João Lourenço, e o da CASA-CE, Manuel Fernandes, trocaram breves palavras sobre o momento político.
“Trocámos algumas palavras, e concordamos que, depois de 1992, estas são as eleições mais competitivas e que apenas faltou o debate entre os candidatos”, disse Manuel Fernandes, em declarações à imprensa.
Manuel Fernandes sublinhou que se pretende erguer um novo país, baseado numa nova realidade. “É fundamental que cada um espere os resultados das urnas, e se for eu a vencer, vou aplicar o meu programa de governo, mas se for o candidato João Lourenço, será ele a aplicar o programa de governo”, salientou o político.
Participaram do culto, além dos dois candidatos, o Vice-Presidente da República, deputados à Assembleia Nacional, juízes, a governadora de Luanda, observadores eleitorais nacionais e internacionais, entre outros convidados.