MEMÓRIAS DO SAMBIZANGA – (1967 / 70): LADRÕES QUE SE CONSIDERAVAM REVOLUCIONÁRIOS E QUE FIZERAM HISTÓRIA
INTRODUÇÃO
Escrever sobre o Sambizanga para mim já se tornou como se estivesse a comer jinguba, pois não conheci nenhum bairro em Luanda que produziu tantos efeitos históricos tão saborosos e alguns amargos como aquele bairro.
Até hoje vivo o Sambizanga com grande intensidade todos os dias, horas e minutos da minha vida apesar de que já lá se vão perto de 50 anos, pois conheci quase todos os famosos daquele bairro da geração dos 60/70, desde ladrões, estudiosos, craques de futebol, dançarinos, prostitutas, bufos e bruxos, etc.
Assim como vi com os meus próprios olhos as ocorrências mais marcantes daquela época desde o confronto tribal entre malanjinos contra catetenses onde rolaram catanas e paus, ás famosas chuvas que quase fazia o bairro desaparecer até a triste historia do boi que tinha fugido do matador e causou um pânico terrível no bairro.
E hoje para mim falar do Sambizanga sem mencionar os nomes de alguns ladrões famosos ou das prostitutas que fizeram história por exemplo como a mana Joaninha e Fatita uma mulata de origem cabo-verdiana, pessoas que eram respeitadas e admiradas por muita gente não estaria á fazer justiça.
LADRÕES QUE SE CONSIDERAVAM REVOLUCIONÁRIOS E QUE FIZERAM HISTÓRIA
Paixão (Rochereau) Man Kapreto, Boa Pinga, Neco (Mulato), Adão-zinho, António
PAIXÃO
O curioso no Paixão tal qual grande parte dos ladrões famosos do bairro que tinham como sua mutamba num dos becos junto á loja do Tondela é que só roubam á ricos especialmente brancos que moravam na baixa de Luanda.
Paixão era tido como o mais habilidoso de entre eles, o mais procurado pela polícia inclusive PIDE / DGS polícia secreta do colonialismo português que nunca o tinha conseguido prender, se dizia que tinha feitiço, pois o que ele fazia não era muito comum para aquilo que se conhece de ladrões.
No dizer das miúdas do bairro naquele tempo, Paixão tinha o perfil ideal de um homem esbelto (boa estatura física) usava perfumes raros, vestia sempre da boa qualidade de roupas de marca e fazia sempre os seus assaltos sozinhos sem nunca ter tido necessidade de fugir correndo depois que aprontasse mais uma.
Ele não assaltava residências, entrava em bancos e estabelecimentos comerciais de renome como a Saratoga / La Finense e outros, enfrentava grandes empresários endinheirados ainda estou para saber com que lata, mas verdade é que quando de lá saísse nas suas belas calmas, já tinha em seu poder volumes de notas.
Se dizia com grande frequência que o tipo tinha uma magia rara, pois da única vez que um agente da PIDE/ DGS o famoso macaco cão, o enfrentou para o prender com uma pistola apontada á cabeça, o Paixão assentou-se no chão simulando que se tinha entregue, e derrepente quando o agente menos esperava o Paixão já lhe tinha desarmado com um golpe do seu pé esquerdo contra o braço do macaco cão e a pistola já estava em suas mãos.
Parecia cena de filme, o Paixão meteu o agente correndo apavoradamente na medida em que ia fazendo alguns tiros pelo ar, e quando chegou a noite o bairro estava todo cercado de agentes brancos da polícia misturados com alguns pretos informantes da PIDE como o Mateus de Carmona, Faria que tinha o salão de farra e o senhor Ribeiro que cobra á luz e água.
MAN KAPRETO!
Man Kapreto era um ladrão que só andava de fatos dos mais exclusivos que haviam na altura, sapato brilhante, meio analfabeto mais sempre com um jornal enfiado debaixo dos braços que completava a sua banga.
Quando os movimentos entraram em Angola já em 1975, man Kapreto ainda chegou á ser mobilizado para a policia e quanto sei fazia segurança publica em torno na câmara municipal de Luanda ou seja comissariado provincial na era em que Mendes de Carvalho era o comissário provincial de Luanda.
Uma vez quando estava de serviço, encontrou uma carteira com muito dinheiro abandonado num dos bancos do jardim e ao resolver entrega-la ao então comissário provincial Mendes de Carvalho este chamou-o de burro por ter resolvido entregar o que não era dele.
BOA PINGA, NECO (MULATO) ADÃOZINHO, ANTÓNIO E OUTROS
Para estes que eram mais jovens, o Paixão era uma espécie de seu ídolo ou seja uma celebridade e como sempre nestas situações não lhes faltou o desejo de viverem na pele de quem eles tanto admiravam.
Era muito comum no meio daqueles ladrões todos que ainda estavam na flor da sua juventude o tudo fazerem não só para se parecerem com o Paixão, como tentando também copiar a forma rara como ele executava os seus roubos, sem se sujar, sem se massar e sem ser preciso correr fugindo depois dos assaltos.
Observação cuidado com as fotos não tem nada a ver com o texto retrata apenas duas figuras famosas e populares do bairro Sambizanga.
José Carrasquinha & David Zé
Fórum Livre Opinião & Justiça
Fernando Vumby