AS NOITES AMARGAS NA COMARCA DO UÍGE: CARTA DE UM PRESO POLÍTICO DIRIGIDA AO JORNAL HORA H

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Comarca do Congo do Uíge 03/07/2022

                                                                                  Para: Jornal Hora H

                                   QUERIDOS COMPATRIOTAS

                                   Quando o Dr. António Agostinho Neto, Dr. Jonas Savimbi e Holden Roberto, assinaram os acordos de Alvor para a proclamação da independência de Angola em 1975, certamente não imaginaram que passados 47 anos, 26 jovens seriam presos por  cantarem democracia e liberdade.

Quando a 4 de Abril de 2002 foi assinado o acordo de Paz, muitos angolanos decente deixaram-se cai na complacência porque pensavam que os difíceis dias de luta tinha acabado.

POR QUE ESTAMOS PRESOS?

Estamos presos simplesmente por marcharmos pela liberdade, por estarmos cansados de ser fisicamente linchados no Uíge e estamos cansados de ser espiritualmente e economicamente linchados na Cidade Alta, estamos aqui presos para dizer que já não vamos continuar sentados com os braços cruzados em privações agonizantes a espera que os outros nos dêem a liberdade… O opressor nunca concede voluntariamente a liberdade, mas tem de ser exigida pelo oprimido.

Hoje, daqui em diante e para sempre temos de tornar claro que continuarei a marchar pela liberdade. Fez-me lembrar a marcha de Mahat Gandhi e Luther King dizia: não há nada mais poderoso do que o ritmo de pés a marchar de um povo determinado pela liberdade.

Caros compatriotas, a nossa luta pela liberdade não vai parar nem com ameaças ou chantagens, nem com espancamentos, nem prisões arbitrária nos vai deter.

Agora já estamos a caminho

Muitos estão a me perguntar: Olavo Castigo, quanto tempo vai durar a tua marcha? Eu simplesmente respondo: a minha marcha não vai parar enquanto a pobreza e a desigualdade continuarão aumentando neste país.

Este Deus que todos buscamos está aqui entre nós, algo louco pode acontecer nesse país ainda este ano, louvado seja Deus.

Caros compatriotas, o Dr. Jonas Savimbi reivindicou para si o papel de porta voz como Moisés dos milhões de homens e mulheres de Angola que sonham que um dia talvez possam atravessar o mar vermelho da injustiça e encher o caminho para a terra prometida da integração e liberdade.

Todos sabem que o Dr. Savimbi, tal como Moisés não conseguiu completar a sua missão. De facto, Jonas Savimbi teve um presságio do seu próprio mérito: só quero cumprir a vontade de Deus. E permitiu-me que subisse ao topo da montanha, e aí vi a terra prometida.

Poderei não chegar lá convosco, mas quero que saibam que nós como um povo chegaremos a terra prometida.

20 anos de caminhada depois da morte de Jonas Savimbi, Adalberto Costa Júnior é o Josué do nosso tempo.

Josué disse: tenho medo, não sei se estou a altura do desafio. Deus respondeu-lhe: todos os lugares que as solas dos teus pés pisarem vos darei: sê forte e corajoso, pois estarei contigo para onde quer que vais, sê forte e tenha coragem. É uma oração para uma jornada.

Queriam dar esses passos juntos, mas foi deixado aos Josues a tarefa de terminarem a viagem que Moisés iniciou e hoje somos chamados a sermos os Josues do nosso tempo a geração que atravessará o rio.

Caros compatriotas estamos a mais de 52 dias de distância para decidirmos o nosso futuro.

Tirem as chinelas, calcem os ténis da marcha, vão, mobilizem o esposo, a esposa, o irmão, os amigos, e os vizinhos e todo mundo para a mudança.

Vamos passando casa a casa não e necessário que façamos muita publicidade ou barulho do nosso trabalho.

Os indonésios têm uma parábola que diz o seguinte: manter o silencia em mil línguas.

Caros compatriotas, continuamos firme na luta pela liberdade mesmo estando nessa cela por 110 dias. Muitos nos perguntam se não temos medo deste regime. Eu somente respondo com a passagem poética do Jamaicano Claude Mc Kay que vivia no Harlem-Nova York-EUA.

Dizia MC Kay, “IF we must die.” Quer dizer, “se temos que morrer.”

Se temos que morrer que não seja como porcos perseguidos cercados num lugar de perdição, cães danados e famintos a ladrarem à nossa volta, a fazerem da sua força a nossa maldição.

Por hoje ficamos por aqui, desde das celas da comarca do Congo do Uíge

O preso político, Olavo Castigo

03/07/2022

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