CONSELHEIRO DO PR LAMENTA FORMA COMO LUANDA TRATOU EX-PRESIDENTE

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Luanda – O conselheiro do Presidente angolano Fernando Pacheco lamentou hoje a forma como Luanda tratou o ex-Presidente José Eduardo dos Santos, com a comunicação social pública a ignorar o “difícil período” que viveu nos últimos tempos.

“Uma coisa que me entristece neste momento é o modo como o poder em Angola tratou nos últimos tempos a personalidade do próprio ex-Presidente, e isto esteve patente na modo como a comunicação social pública quase ignorou o difícil período que ele viveu”, disse o engenheiro, membro do Conselho da República de Angola.

Mesmo após o acidente de dia 23 de junho, que motivou o internamento de José Eduardo dos Santos nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona, “foi apenas depois (…) de bastante pressão da sociedade através das redes sociais que esses órgãos de comunicação social públicos se dignaram enviar repórteres” à cidade espanhola.

“Isto sem dúvida alguma que me entristece bastante. Principalmente vindo de pessoas que ficaram a dever muito do seu do seu trajecto ao ex-Presidente”, disse.

Em declarações à Lusa após a notícia da morte de José Eduardo dos Santos, hoje em Barcelona, Fernando Pacheco lembrou que em artigos de opinião na imprensa angolana foi várias vezes crítico de “muitos erros” de José Eduardo dos Santos, mas no momento da sua morte prefere focar-se nos pontos positivos.

“Sem dúvida alguma que, nesta altura, passa-me pela cabeça o facto de Angola ter ficado a dever ao ex-Presidente o modo como terminou a guerra civil, pela forma como os militares derrotados da UNITA foram tratados, não foram humilhados e, pelo contrário, foram integrados na sociedade angolana”, recordou.

E salientou ainda “o facto de o ex-Presidente José Eduardo dos Santos ter tido um papel extremamente importante na manutenção de uma unidade nacional”, uma “unidade territorial” e uma unidade de Angola “como um todo político”.

“Estes são elementos realmente muito importantes, pena foi que depois tivesse havido aspectos, digamos, menos positivos”, considerou.

Pacheco disse ainda que as acusações lançadas por membros da família de José Eduardo dos Santos “não dignificam Angola e não dignificam os angolanos”.

“Parece-me a mim que, numa altura como esta, deveria haver de todas as partes envolvidas – e eu friso bem de todas as partes envolvidas – deveria haver algum recato de modo a que não houvesse especulação”, afirmou, considerando “desnecessária esta intranquilidade”.

E lamentou ainda que a família do ex-Presidente não faça parte da comissão criada pelo Presidente João Lourenço para organizar a cerimónia fúnebre de José Eduardo dos Santos.

“Parece-me que seria de bom tom que a Comissão pelo menos manifestasse essa abertura, essa abertura para a integração de familiares mais directos do ex-Presidente. Não o fazendo, cria-se ainda mais dificuldades nesse relacionamento difícil que tem havido, pelo menos com uma parte da família”, disse.

O Governo angolano criou hoje uma comissão do Estado para organizar a cerimónia fúnebre do ex-Presidente angolano, que integra 11 ministros e a governadora de Luanda.

A realização da cerimónia fúnebre não é consensual, já que as filhas mais velhas de José Eduardo dos Santos, que morreu em Barcelona, não querem regressar a Angola, por enfrentarem processos judiciais ou por alegadamente correrem risco de vida.

Um outro filho, José Filomeno “Zenu” dos Santos, foi condenado a uma pena de prisão no âmbito de um processo de corrupção, aguardando em liberdade o recurso que interpôs, e disse recentemente que o seu passaporte estava a ser retido pelas autoridades angolanas.

José Eduardo dos Santos morreu hoje aos 79 anos numa clínica em Barcelona, Espanha, após semanas de internamento, anunciou hoje a presidência angolana, que decretou cinco dias de luto nacional.

O antigo Presidente da Angola estava há duas semanas internado nos cuidados intensivos de uma clínica em Barcelona.

Neste período, a filha Tchizé dos Santos apresentou uma queixa junto da polícia da Catalunha, argumentando que o antigo chefe de Estado de Angola não estava a ter os cuidados que considerava adequados.

Segundo disse então à Lusa a advogada que representa a angolana, Carmen Varela, a queixa visava investigar alegados crimes de tentativa de homicídio, omissão do dever de assistência, ferimentos devidos a negligência grosseira e revelação de segredos por pessoas próximas”.

 Segundo disse também à Lusa uma fonte próxima da família, Tchizé dos Santos queria afastar Ana Paula dos Santos, ex-mulher de José Eduardo dos Santos e mãe de três dos seus filhos, e impedir que fossem desligadas as máquinas que mantinham vivo o ex-Presidente.

Tchizé dos Santos acusou também nos últimos dias o actual chefe do executivo, João Lourenço, de estar a fazer uma gestão política do caso.

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