TRÊS FANTASIAS DE JOÃO LOURENÇO

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O colossal alienismo político da liderança do MPLA expôs mais uma vez a inconsistência do chão debaixo dos pés do seu líder. O próprio presidente do partido, o candidato do MPLA a suceder o actual presidente da república, mais uma vez veio reforçar a noção que qualquer um de nós tem sobre quão fácil é ficar à léguas de distância de se poder traçar aqui o retrato fiel da agreste realidade que há décadas persegue os angolanos.

Ser governados por políticos para quem o poder da palavra nada lhes diz, nem já em termos morais! Como se costuma dizer “sem moral não há compromisso até as últimas consequências”.

A entrevista à medida de João Lourenço não salvou de si João Lourenço e MPLA. Caso para constatar: Se em prime time da televisão pública portuguesa o chefe do executivo não foi capaz de assumir com frontalidade e humildade, uma que fosse das verdades com que foi confrontado pela jornalista; Se, foi transversalmente gélido e totalmente incapaz de reconhecer os seus falhanços, algo que o MPLA nunca faz senão em slogans propagandísticos, que esperança se depositará nos intérpretes da sua visão para o país? De passagem se diga que o MPLA ficou mais longe de conquistar a confiança dos angolanos que, em tese, permanece ao alcance dos concorrentes até o dia 24 de Agosto.

A figura que muito pouco de concreto ousou na proclamação das suas promessas quando em 2017 percorreu o país de polo a polo, sendo o primeiro sucessor a ocupar alguma vez a cadeira presidencial retida nas mãos do MPLA desde 1975, é também o general que sucumbiu no campo das batalhas da governação do país nos últimos 5 anos. É o General que partiu para guerra contra pobreza dos angolanos levando numa das mãos um fardo de promessas vagas, indeterminadas, nenhuma ambição nem metas definidas, concretas, a atingir até o cair do pano do ciclo que findaria agora em Agosto.

Na outra mão empunhou larguíssimas bandeiras que arrastou ao longo de cinco anos pelas soleiras das portas de esperança e das ânsias do povo, mas não as sujou. As bandeiras eleitoralistas de João Lourenço não limparam a fome nem atacaram a miséria que sitiou as portas das famílias angolanas desde que somos um estado soberano e independente. Gritaram aos nossos ouvidos para esperarmos por centenas de milhares de casas que vinham a caminho e ao encontro das necessidades mais prementes de milhões de famílias angolanas. De alta voz garantiram que vinham a caminho mais postos de trabalho e melhor emprego. Ribombou com toda energia a voz de João Lourenço anunciando mais liberdade de imprensa, mais acesso (livre de censura) à informação, independência da actividade toda comunicação social no seu geral.

Gargantearam incisivamente aos nossos olhos e ouvidos; Está para muito breve a independência do poder judicial, a vitória do combate pelo repatriamento dos capitais que ajudariam a salvar os doentes nos hospitais e apoiar com material e livros as crianças e todos estudantes, facilitar às famílias o acesso à água potável e à energia eléctrica. Infelizmente para as nossas famílias, no final da corrida de cinco anos a fita que colocaram em cima da meta, para cortar no dia 24 de Agosto próximo,  é a fita do retrato de um país mais próximo das nações materialmente, e a outros títulos, mais pobres do mundo.

Em síntese, as bandeiras da guerra contra a fome e pobreza apresentadas ao povo com rótulo de patriotismo profundo, de justiça democrática e de rotura com passado vergonhoso, na verdade, foi durante cinco anos arrastada pelo país com objectivo único de encobrir o crescimento de fortunas não justificadas. Nos quiseram entreter, daí num exercício de demonstração de indigência política, porventura não totalmente consciente, João Lourenço acabou engolido pela displicência e a cantar vitórias perante as câmaras da RTP. Disparou canhões de grande calibre e fez cair chuvas de estrelas adornando idílicas realizações que despertavam sorrisos, discretos, nos lábios da entrevistadora. Pobre mulher, que pachorra!

O ainda presidente do MPLA e do país não parece saber que a sua ascensão ao poder despertou nos corações dos angolanos a ilusão de uma tão desejada chegada ao oásis da felicidade e da justiça social. Qual cristal de gelo, João Lourenço parece alheio a individualidade política de quem muitos angolanos tanto esperaram até desesperar no passado imediato.

Seguro de si costuma ser o aluno aplicado cujo as hipóteses de sucesso, João Lourenço negligencia   ou despreza. Por definição, é sensato o aluno que logra cristalizar certezas de conquistar resultados gratificantes. Não surgem do acaso nem são proporcionados por tiradas habilidosas; brotam do privilegiado foco na identificação de dúvidas a tirar com soberano mestre – observando atentamente e sem subestimar o povo, no caso. É o contraponto do aluno negligente e até medíocre que se distingue pela negativa do colega que pode estar sentado mesmo ao lado. Não lhe aproveita resolutamente esquivar-se a reconhecer a sua ignorância até lhe sucumbir.

Acometido pela “síndrome da perigosa cegueira da força da soberania popular”, João Lourenço mantém o registo do aprendiz que nunca tem dúvidas. Mostrou crer piamente descobrir o rumo certo e que vai vingar. Tanto é que perante a pergunta do abrandamento do ritmo das exonerações frequentes nos primeiros anos do mandato, não hesitou na resposta: “…se já não exonero tanto é porque finalmente acertei”. Na mesma entrevista, da passada terça-feira à RTP, João Lourenço estirou-se complementando com abertas gargalhadas a sua equivocada convicção de próximo inquilino do palácio presidencial. Esforçou-se por fazer parecer estar inexoravelmente certo que será o próximo timoneiro da nação no ciclo político cujo fumo branco ascenderá da chaminé eleitoral de 24 de Agosto próximo. “…o Presidente Marcelo disse: Oh João Lourenço, não se canse tanto…”; “… tenho a certeza de vir a concluir…no próximo mandato…”. Nada espanta no candidato João Lourenço sendo ele o romântico que se assentou no alpendre das três fantasias. É apenas o estranho caso de um ditador que calcula que o povo vai manter os braços em baixo ad aeternum, para sempre.

O ainda presidente de Angola lançou foguetes de certezas: Certeza de ter esgotado todos desafios à bem da melhoria das condições de vida do povo; Certeza de não ter deixado cair ou abandonado as promessas eleitorais de 2017; Certeza, em tom acusatório, de ser apenas a oposição a cogitar meras ficções de descontentamento popular massivo; Certeza de ser a oposição o grande malfeitor conspurcando a paisagem política com uma contestação generalizada que não existe.

Em termos mais ou menos subliminares, João Lourenço acusa a oposição de tentar fechar os olhos aos méritos da trajectória e dos resultados do seu executivo. Todas certezas exprimidas por João Lourenço perante os holofotes da comunicação social portuguesa animam um opúsculo odisseico de um péssimo avaliador da força da razão do povo, pois, na verdade, não é da oposição que se trata.

Angola não é uma ficção, é um país real. Como qualquer estado do mundo, do dito primeiro mundo ou fora dele, Angola é um estado feito de pessoas de carne e osso e sangue, em quem reside todo seu potencial. O povo é o próprio repositório da verdade e da razão; a maior e mais soberana instituição do estado angolano. João Lourenço! É bom para o país que se desperte do mundo onírico antes que seja tarde. O país não dispensa nem se dá ao luxo de ignorar a necessidade existencial de encarar de cara erguida e de olhos bem abertos o sentimento e o poder da vontade popular.

Já quase nada resta na retórica do MPLA que possa surpreender os angolanos. Entre nós já ninguém desconhece ou ignora que as ideias dos homens reflectem a sua estatura moral sem desprimor do intelectual. Subestimar gratuitamente a inteligência e a determinação dos angolanos só pode ser induzido por uma inamovível confiança em ajudas desleais.

Na visão do ainda presidente, o bem do país assenta na duplicidade, na sistemática falsificação dos pilares do poder constitucional e legislativo. A fé deste candidato na vitória em Agosto assenta especialmente no viveiro da fraude eleitoral. Dentro e além de fronteiras se dá como certa, pelo menos na forma tentada, a fraude nas eleições de 24 de Agosto próximo. Sob a batuta do candidato da desonestidade e da indecência política, o edifício da fraude materializou-se nas famosas revisões constitucionais e nas trapalhadas legislativas ensaiadas no núcleo da constelação das leis que regem todo processo eleitoral.

Certo é que os angolanos não vacilam nas suas avaliações, não andam a titubear nas considerações de substância do espetro político atual e do futuro próximo.

Só a cedência, fácil, a ilusão da estratégia de confundir para abrir as portas da confrontação física contra a oposição, seguindo-se a investida contra a barreira que ainda protege contra o ataque brutal aos opositores políticos. Tal é o calculismo que só nessa base se pode compreender João Lourenço a fazer um autêntico pino de cabeça na areia quando vocaliza “disparates” inusitados sobre supostos instigadores da desestabilização social.

Afirmar que em Angola existe um pequeno grupo de jovens vassalos de uma oposição cicerone da minoria irrelevante; jovens peões de um pequeno grupo de manipuladores, revela reduzida sensibilidade intelectual e desespero. Tentar encobrir a realidade do descontentamento e da contestação juvenil generalizada é tentar esvaziar o espetro heliográfico. Quem a isto se arrisca não deveria ter dificuldade de prever as consequências.

O astigmatismo por associação comparativa do passado relativamente recente, é o sustentáculo do enviesamento perceptivo. Esperançoso da remota possibilidade de claudicação da memória cívica e política dos angolanos, conforme registo das câmaras da RTP, João Lourenço em várias tribunas cedeu a afirmações gratuitas imputando à oposição culpa única e exclusiva de inércia mediática. Manifestamente, João Lourenço acredita valer a pena embrenhar no exercício de convencer a opinião pública nacional e internacional da suposta incapacidade comunicacional das oposições em Angola. Mantendo o registo sempre aperaltado do característico tom jocoso que não nos choca já, responsabilizou as empresas que não têm vingado infiltrar-se na órbita concêntrica das nem por isso silenciosas actividades frenéticas do tráfico do poder. Não poupou na sua assertividade quanto na imputação aos empresários e investidores nacionais, comuns, assacando a estes toda culpa no cartório por não superarem os obstáculos que os privam do acesso às alegadas linhas de crêdito disponíveis na banca comercial.

Exageros fora:

Do início ao fim da entrevista à RTP, João Lourenço tanto fez e muito se esforçou a dissimular a noção de não saber o que não está, à sete chaves – mais que suficiente, apenas à uma -, guardado no córtex frontal dos angolanos para o dia da votação. Ao olhar mais desatento do povo não escapa a marca patente na actuação pública do ainda presidente da república, nomeadamente a sua consciência e tentativa desesperada de fuga desesperada. Compete ao mais alto magistrado da nação promover a cultura da tolerância, do reconhecimento público do cenário mais provável respeitante às alterações no desenho das bancadas parlamentares. O Presidente da República está obrigado a agir no exercício do poder, no cumprimento do dever de acomodar devidamente toda envolvência do ambiente e da atmosfera política e cívica dos dias do voto e da publicação dos resultados eleitorais. Apesar de tudo, é caso para gritar: Venha rapidamente o 24 de Agosto!

Por Romeu Cachiungo

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