“MEMBROS DO MPLA FORAM ENSINADOS A ODIAR A UNITA E FNLA” DISSE MIAHELA WEBBA
Numa carta dirigida aos membros do partido que governa o país há mais de 46 anos, Miahela Webba, deputada do maior partido na oposição acusa os membros do MPLA de receberem ensinamentos que visa odiar ou desprezar os outros movimentos de libertação nacional sobretudo a UNITA e FNLA, afirma a missiva em posse do Jornal Hora H
REDACÇÃO
Dirijo esta carta a todos os meus concidadãos, a quem a Constituição me confere a honra e o privilégio de representar na Assembléia Nacional, em especial à grande família do MPLA. Decidi escrevê-la, inspirada pela carta aberta de desvinculação do MPLA, subscrita pelo seu veterano militante, Francisco Gentil Viana, que a publicou na semana passada, afirma a deputada.
Segundo a militante da UNITA, em 2007, quando freqüentava o mestrado em Direito Constitucional, na Universidade de Coimbra, em Portugal, havia remetido uma carta de desvinculação do MPLA ao núcleo da JMPLA em Portugal, por razões similares. Hoje, Angola vive um momento ímpar da sua história política, e, por isso, senti ser meu dever fazer um apelo especial aos concidadãos da denominada grande família do MPLA.
QUEM É A GRANDE FAMÍLIA DO MPLA?
A grande família do MPLA, é tida como sendo constituída por todos àqueles cidadãos de origem étnicos cultural Kimbundu; pelos que, por terem sido violentados ou discriminados pela FNLA ou pela UNITA, buscaram refúgio no MPLA; pelas vítimas dos acontecimentos do 27 de Maio de 1977; pelos filhos, netos, parentes e amigos dos dirigentes e militantes do MPLA, afirmou Weba.
A jurista, Inclui, os ex-FAPLA; os que foram ensinados a odiar ou desprezar os outros movimentos de libertação nacional, a UNITA e a FNLA; inclui os cidadãos que foram forçados pelas circunstâncias a se filiar no MPLA; inclui ainda os que em certa altura do percurso se desentenderam ou se afastaram do MPLA; e também, os que, por convicção própria, acreditam que o MPLA é Angola, e por isso a sua vontade deve continuar a ser colocada acima da Constituição da República.
“ Caso você se sinta incluído num desses grupos, então, esta carta é especialmente para si.”
Na seqüência, Miahela, pede ao cidadão a partilha de reflexão em torno desta missiva “caro concidadão, vamos partilhar uma reflexão sobre o nosso país e convidar-vos a colocar uma pedra sobre o passado de disputas partidárias para construirmos um futuro de concórdia e de paz numa Angola mais justa e solidária, onde todos nos sintamos seguros, mesmo sem guardas.”
Segundo a militante do Galo Negro, os mais velhos, da geração dos meus pais, falharam no alcance dos objetivos da luta pela independência, pela unidade dos angolanos e pela boa governarão. A história que nos contaram sobre o passado conflituoso e sobre as divisões do movimento nacionalista, não se mostrou verdadeira.
“De facto, estaremos mais perto da verdade se reconhecermos que falhamos porque tanto em 1975, como em 1991, em 2002 e depois disso, não fomos capazes de construir um sistema político que valoriza o pluralismo e promova o compromisso entre os vários povos e as várias lideranças sociais de Angola. Não fomos capazes de colocar Angola e os angolanos em primeiro lugar e construir a nossa própria democracia”
De acordo a linha de pensamento da deputada, ”Como resultado desta falha colectiva, embarcamos no fratricídio ainda antes da independência, perdemos centenas de milhares de vidas, sacrificamos o futuro de duas gerações e adiamos o País. A restauração da paz militar, em 2002, não anulou os efeitos nocivos da cultura da intolerância, da violência e da exclusão, que presidiu o movimento nacionalista antes e depois da independência. Passados vinte anos, não temos ainda a paz política, que tem como base o primado do direito e da lei. Como afirmou o Mais Velho Daniel Chipenda numa entrevista ao Jornal Público, de 28 de Janeiro de 1994,
“Para aqueles que se consideravam os libertadores, a idéia de que outros participassem na resolução dos problemas nacionais era quase inconcebível. Esta psicose permanece ainda e enquanto não se demover tal mentalidade terá muitos problemas”.
o Jornal Hora H, procurou contactar a deputada por via telefonica mas sem sucesso.