ESPETÁTACULO “ISTO É UMA MULHER?”

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O espectáculo de dança “Isto é uma mulher?” volta a ser exibido hoje, às 19h00, na União dos Escritores Angolanos, em Luanda, pela Companhia de Dança Contemporânea de Angola (CDCA), para criar um debate entre a sociedade e os artistas em volta de um tema comum.

 Mukwá Kilunje

Após a estreia da peça a semana passada, os bailarinos da companhia têm ensaiado para voltar a conquistar o público amanhã.

A CDCA volta a apresentar o espectáculo sábado e domingo, às 17h00, no mesmo local. Devido a falta de salas de teatro convencionais em Luanda, a companhia decidiu exibir a peça no espaço exterior do recinto.

Para as criadoras, as coreógrafas Ana Clara Guerra Marques (Angola) e Irène Tassembédo (Burkina Faso), o espectáculo é um convite à todos, para a reflexão sobre o papel da mulher ontem e hoje. “A mulher já não cabe nos paradigmas do passado”, defendem as coreógrafas.

Na opinião das coreógrafas, “vivemos hoje tempos que se distanciam daqueles modelos arcaicos no qual a obrigatoriedade das mulheres se ocuparem exclusivamente das tarefas domésticas (tomar conta dos filhos, da cozinha ou da roupa do marido), contrastava com a liberdade dos homens, para trabalhar, governar e movimentar-se livremente dentro e fora de todas as regras de conduta e princípios morais criados para manter as mulheres numa posição subalterna”.

Nas sociedades ditas modernas, defendem, as mulheres estas não tinham, inclusivamente, direitos sobre o próprio corpo. “Como resultado de todas as transformações que este cenário conheceu, existem actualmente sociedades onde a mulher desempenha papéis de responsabilidade antes reservados aos homens. Paralelamente, outras há em que as mulheres continuam a viver numa condição de quase invisibilidade”, acrescentam, além de chamar a atenção para a importância do espectáculo num novo despertar de consciência quanto ao papel da mulher na sociedade.

“Criar uma peça sobre a mulher pode parecer tão oportuno como arriscado ou mesmo imprudente. Se existem geografias onde estes assuntos são amplamente debatidos e espaço à realização pessoal de todos, outras há que permanecem enclausuradas nos parâmetros conservadores, que a própria ciência já descartou, de uma definição Homem-Mulher circunscrita às características biológicas”, criticam.

A ideia da CDCA, explicou Ana Clara Guerra Marques, é levar as pessoas a questionarem “o que é ser mulher?”. “Buscamos uma resposta aberta, na qual estejam incluídas questões de ordem física, psicológica, social e antropológica, que permitam a descoberta ou, simplesmente, desafiem o público a confrontar-se consigo próprio”, explicou.

AS COREÓGRAFAS

Há mais de três décadas a desenvolver um trabalho coreográfico original, combinando a dança contemporânea e a africana, Irène Tassembédo tem reinventado novas linguagens para a dança. Além da dança, a coreógrafa desenvolve também é actriz.

Após 30 anos de carreira, voltou a estabelecer-se, em 2007 no Burkina Faso, seu país de origem, transmitindo experiência profissional a bailarinos, coreógrafos e outros artistas do continente africano.

Actualmente, Irène Tassembédo trabalha no desenvolvimento de projectos culturais inovadores como a Escola Internacional de Dança. Em Janeiro de 2013, lançou o Festival Internacional de Dança de Ouagadougou (FIDO), que hoje é um dos pontos de encontro internacional de alto nível para a dança em África.

Pioneira da dança contemporânea em Angola, Ana Clara Guerra Marques é a fundadora da primeira companhia profissional angolana, a CDCA, hoje com 30 anos de existência e um lugar privilegiado na História do país, por ter semeado o conceito de “novo” no vasto terreno da dança, onde continua a desenvolver inúmeros trabalhos únicos.

Como investigadora, tem vários artigos publicados em periódicos angolanos e revistas de especialidade internacionais e é autora dos livros “A Alquimia da Dança”, “A Companhia de Dança Contemporânea de Angola”, “Para uma História da Dança em Angola – Entre a Escola e a Companhia: Um Percurso pedagógico”, “Memória Viva da Cultura do Leste de Angola” e “Máscaras Cokwe: A linguagem coreográfica de Mwana Phwo e Cihongo”.

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